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Conheça a cultura do cancelamento e porque ela é tão nociva

Veja como cancelar pessoas nas redes sociais e na vida real pode ser altamente destrutivo.

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A internet se tornou um local cada vez mais democrático, aberta a debates importantes sobre racismo, homofobia, feminismo, entre outros assuntos. No entanto, esse mesmo ambiente plural e de compartilhamentos de informações também estimula a cultura do cancelamento e da impossibilidade do erro.

Essa é uma prática cada vez mais comum e que causa muitos prejuízos para a imagem da pessoa que sofre com isso. Quem utiliza as redes sociais a um tempo já viu alguma personalidade pública, artista ou influenciador sendo cancelados. Às vezes por uma declaração polêmica, uma ação ou post, a pessoa pode sofrer retaliação e se tornar o assunto mais comentado da vez. E as formas de ataque são as mais cruéis possíveis, chegando ao ponto de atingir a carreira e até mesmo a família do indivíduo.

Aliás, o BBB 21 vem dando exemplos de como o cancelamento funciona na sociedade. Os mesmos participantes que entraram com medo de serem cancelados, foram os primeiros a apontar o dedo para o erro alheio, provocando uma revolta dos telespectadores. Então, para entender melhor sobre esse debate importante, convidamos a Terapeuta Comportamental Camila Custódio para explicar sobre o assunto.

 

Como surgiu a cultura do cancelamento?

De acordo com Camila, "a expressão cancelamento surgiu nas redes sociais em 2017 onde se popularizou através do movimento Metoo e de suas hashtags que denunciavam o  assédio sexual em Hollywood e o abuso sofrido por mulheres no mundo todo”. A partir daí, o movimento ganhou mais força, os acusados pelos assédios e abusos foram condenados ou boicotados em seus trabalhos e cancelados na internet.

Em seguida, grupos progressistas aderiram a cultura do cultura do cancelamento, com o objetivo de tornar o público mais consciente e crítico em relação às suas práticas e comportamentos. Ou seja, algumas empresas tiveram de rever as suas campanhas e posicionamentos, levando em consideração questões sociais como homofobia, machismo, feminismo e racismo.

Reprodução / pexels

Essa seria uma ótima oportunidade para que todos pudessem rever seus atos, porém, o movimento ganhou uma proporção totalmente contrária do esperado. Para Camila, “Hoje não se cancela só quem se envolve em polêmicas, figuras públicas e empresas que agridem o meio ambiente mas também quem pensa diferente, age diferente,  diverge de opinião”.

A partir dessa nova perspectiva, qualquer pessoa que tem um posicionamento diferente do esperado é julgada. E basta emitir uma opinião divergente ou falhar como ser humano para ser alvo de inúmeras críticas, de pessoas que geralmente são cheias de defeitos. E o pior de tudo, é que não há a possibilidade de correção desse erro sem que haja uma exposição anterior.

“A cultura do cancelamento se tornou doentia e as figuras públicas e influenciadores são os que têm sua saúde mental e emocional mais prejudicadas. Esses sofrem a ira dos tweets, a ofensa dos comentários e uma chuva de agressões nos reposts”, diz a terapeuta.

 

Porque o cancelamento é tão prejudicial

Porém, as consequências do cancelamento são altamente nocivas e mexem com o psicológico de quem sofre com os ataques. Daí surgem problemas como fobia social, depressão , chegando ate ao suicídio.

A lógica aqui é punir o indivíduo, sem dar-lhe o direito de se retratar e ou se justificar pelo erro, promovendo assim um auto aprendizado. Essa raiva gera uma reação em cadeia, onde outras pessoas vão se sentindo empoderadas o suficiente para xingar, rebaixar ou até mesmo causar diversos tipos de violência psicológica.

Reprodução / pexels

Ou seja, “no tribunal da internet as pessoas ganham força através do efeito manada onde todos se acham no direito de julgar e fazer justiça contra aquele que errou. Afinal elas não sentem o impacto nem a responsabilidade de descontar sua fúria sobre uma tela e seus caracteres”, diz Camila.

 

Como interromper esse ciclo de violências?

O primeiro passo para reduzir os cancelamentos nas redes é ter em mente que somos seres humanos passíveis ao erro. Sem dúvidas, devemos nos responsabilizar pelos nossos erros, porém, nunca internalizar o julgamento de pessoas mal nos conhecem ou assumir essa culpa eterna. A ideia é aprender com esse erro, aprender e melhorar.

Reprodução / pexels

Além disso, Camila ainda menciona a importância de não endeusarmos pessoas comuns e não colocá-las numa espécie de pedestal. Reduzir as expectativas em relação ao outro e não definir ninguém como vilão ou mocinho também é importante.

Enfim, "precisamos aprender a dialogar, a discordar, a educar e exercer a empatia e a tolerância. Somos seres humanos e em constante evolução, erramos e aprendemos através dos nossos erros", conclui a psicóloga.

Última modificação em 27/07/2022 11:48

Liz Santana

Redatora e produtora de conteúdos sobre redes sociais, empreendedorismo e universo da internet. Ama séries, ouvir podcasts, criar roteiros de viagem e navegar no Twitter.

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