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Kanye West: quando o transtorno mental afeta a carreira da celebridade

O rapper americano Kanye West é uma das celebridades mais divisoras dos anos 2000. Uma legião de fãs o adora, mas também há uma grande quantidade de pessoas que o considera uma figura prejudicial à sociedade.

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O rapper americano Kanye West é uma das celebridades mais divisoras dos anos 2000. Uma legião de fãs o adora, mas também há uma grande quantidade de pessoas que o considera uma figura prejudicial à sociedade. Nesta semana, o artista virou manchete duas vezes: uma por chorar durante um comício para sua candidatura à presidência dos Estados Unidos e a segunda após postar uma série de tweets durante um colapso mental. 

Muito além dessas questões problemáticas, precisamos lembrar do fato que Kanye West é uma pessoa que sofre com um grande transtorno mental. Em 2018, o rapper/produtor revelou o diagnóstico de bipolaridade na capa (e nas letras) de seu álbum ye. A revelação ocorreu após uma série de episódios que fizeram muitos chamarem o artista de “louco”. 

Dois dos principais episódios protagonizados por Kanye West

"eu odeio ser bi-polar. É incrível" diz a capa de ye, álbum lançado por kanye west em 2018. Fonte: wikipédia

Provavelmente, o mais fatídico dos momentos tenha sido um discurso de 25 minutos durante uma apresentação de West em 2016. Na ocasião, além de declarar que votaria em Donald Trump, o artista falou sobre racismo e criticou duramente um artigo do New York Post com aspas de Jay-Z - outro rapper e seu ex-amigo - chamando Kanye de maluco. “Uma pessoa doida não consegue fazer tudo isso”, esbravejou West comparando o xingamento e seus shows. O episódio e a mente saturada de Kanye resultaram no cancelamento da turnê The Life of Pablo e na internação do músico em um hospital psiquiátrico.

Contudo, apesar do tratamento, Kanye West protagonizou outro escândalo em 2018, quando foi à redação do tabloide TMZ utilizando um boné Make America Great Again (símbolo da campanha presidencial de Donald Trump). Durante a polêmica entrevista ao veículo, falou uma frase controversa sobre a escravidão nos Estados Unidos: “Quando você ouve que a escravidão durou 400 anos. Por 400 anos? Para mim isso soa como uma escolha”. A fala gerou  aquilo que, certamente, foi uma das piores repercussões de sua carreira. Segundo fontes próximas ao rapper, ele agiu daquela forma pois havia reduzido drasticamente a medicação que controla sua bipolaridade.

O relato de Kim Kardashian, sua esposa

Não só a carreira do astro ruiu, mas a socialite Kim Kardashian, sua esposa, também foi afetada pelos recentes rompantes causados pelo transtorno de seu marido. Vários sites afirmaram que ela ficou revoltada com os comentários de West sobre o fato do casal ter considerado abortar a primeira filha deles, North West. Além disso, em dois posts (agora apagados) de seu Twitter, o rapper afirmou que o filme Corra! era sobre sua relação com Kim e a chamou de supremacista branca. Para quem ainda não assistiu o longa [spoiler até o fim do parágrafo], o filme retrata a história fictícia de um homem negro que é feito de refém pela família da namorada.

Por conseqüência da série de tweets, Kim se viu obrigada a soltar um depoimento sobre o estado de saúde do rapper nos últimos tempos. Leia um resumo do texto abaixo:

"Como muitos de vocês sabem, Kanye possui transtorno bipolar. Nunca falei publicamente sobre como isso nos afetou em casa, pois sou muito protetora do direito de privacidade de Kanye e nossas crianças. Aqueles que entendem doenças mentais ou até comportamentos impulsivos sabem que a família não poder a não ser que a pessoa seja menor de idade. Pessoas que não sabem sobre, ou não fazem parte da experiência, podem ser muito críticas... Eu entendo que Kanye é alvo de criticismo, pois ele é uma figura pública e suas ações, às vezes, podem causar fortes opiniões e emoções. Viver com transtorno bipolar não diminui ou invalida seus sonhos e suas ideias criativas, não importa o quão grandes ou inatingíveis algumas sejam. Peço gentilmente que a mídia e o público nos deem a compaixão e a empatia necessária para passarmos por isso".

Outras celebridades que lidam com transtornos

Com certeza, a pressão da vida pública não é uma coisa fácil de aguentar. Muitos artistas perdem o controle sobre  suas vidas a partir do momento que se 'comprometem' ao mundo da fama. Porém, felizmente, outras pessoas notórias conseguem aprender a lidar com suas dificuldades. Uma delas, a cantora Demi Lovato, inclusive manifestou-se sobre o caso de Kanye West e as duras críticas feitas ao músico: "O que aconteceu com a empatia? É incrível para mim que algumas pessoas achem que realmente sabem o que ocorre com algumas celebridades. NÃO finja saber sobre a doença mental de outra pessoa".

Em 2018, Lovato foi internada após sofrer uma overdose - desde 2012 ela lutava contra a dependência química. Após algum período fora da mídia para cuidar de sua saúde mental, retornou aos palcos este ano para um performance na 62ª Edição do Grammy.

Jim Carrey também é outro famoso que luta contra a depressão. Tudo se intensificou após a traumática morte de sua namorada, Cathriona White, em 2015. Grande parte da imprensa americana acusou o astro de ter enlouquecido depois do acontecido, mas Carrey passava por um péssimo período - além da batalha pela saúde mental, estava sendo processado pela morte de Cathriona. A solução encontrada pelo ator e comediante talvez tenha sido decisiva. Carrey afastou-se dos holofotes por algum tempo e dedicou-se à pintura, sua outra paixão. Após o 'sumiço', retornou com a série Kidding, uma série de tom filosófico sobre o luto - o seriado foi um remédio para Carrey. O ator consegiu retornar à comédia somente neste ano, com o lançamento do live-action de Sonic.

Considerado o caso desses famosos e a decisão de afastar-se da vida pública, fica a questão: será que Kanye West deveria dar uma pausa em sua carreira musical (e política) para poder resolver seus demônios internos?

Última modificação em 29/07/2022 11:41

Erich Mafra

Atua como jornalista desde 2017. Passou pela redação da Revista Veja, onde cobriu as editorias de Cultura, Política e Consumo.

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Tags: Donald Trump