Finanças

Até onde o dólar pode chegar? Mercado financeiro se divide

Discussão veio à tona após ministro da Economia, Paulo Guedes, prever moeda em torno de R$ 4,50 como taxa de equilíbrio

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O dólar retomou o fôlego em abril, pressionado por incertezas políticas e, principalmente, fiscais, por dúvidas sobre o compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas.

A insegurança aumentou com os debates sobre o Orçamento 2021, até agora sem conclusão, por causa do impasse nas negociações entre governo e Congresso. Nesse ambiente, a pergunta sobre até onde pode ir o dólar divide opiniões no mercado financeiro.

Mercado projeta queda na cotação para R$ 5,37 até o fim do ano

A discussão veio à tona, mais uma vez, depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a taxa de câmbio de equilíbrio deve estar girando em torno de R$ 4,50. Portanto, bem abaixo da cotação perto de R$ 5,70 com que o dólar vem rodando.

O ministro foi além. Disse que a moeda brasileira, o real, tende a se valorizar à medida que o País for avançando nas reformas econômicas e na vacinação em massa. A ideia é que, com a materialização das reformas, que permanecem empacadas no Congresso, o investidor estrangeiro ingressará com dólares no País. Tanto para investimento financeiro (como em renda fixa e bolsa de valores) como para investimento na produção.

Guedes vê queda do dólar nos próximos meses

"A taxa de câmbio está mais elevada. Provavelmente deveria estar em torno de R$ 4,50 agora. Mas estamos avançando nas reformas fundamentais. Assim que o Brasil voltar a crescer, formos para a vacinação em massa, e em três ou quatro meses… provavelmente o câmbio (dólar) vai cair", disse o ministro durante videoconferência promovida pela Brazilian-American Chamber of Commerce.

Em declaração anterior sobre o câmbio, em 2019, o ministro provocou efeito contrário no câmbio em relação ao sugerido desta vez, ao afirmar que a tendência seria de valorização do dólar ou depreciação do real. Foi o suficiente para que o dólar ganhasse mobilidade e exigisse atuações do Banco Central para conter a aceleração das cotações.

O sócio-fundador da Fatorial Investimentos, Jansen Costa, afirma que a referência a um patamar tido como ponto de equilíbrio não significa que o País tenha condições de atingir esse valor. Ainda faltam, segundo ele, alguns fatores para o Brasil chegar ao equilíbrio no câmbio.

"Não necessariamente um câmbio fora do lugar irá voltar para o que o ministro imagina. O problema maior que temos é fiscal, que gera insegurança no investidor e faz com que ele saia do País. O dólar irá caminhar para R$ 4,50 se tivermos reformas que diminuam nosso custo diante da dívida que temos, possibilitando que o País cresça e tenha mais espaço fiscal para manobra", explica Jansen Costa.

Para Rossano Oltramari, sócio e estrategista da 051 Capital, o câmbio de equilíbrio é o que ele chama de tela, que é o valor atual do dólar. De acordo com ele, há dúvidas se de fato será possível a moeda americana chegar a esse patamar de referência previsto pelo ministro no curto prazo.

"Eu acredito que, se tivermos reformas avançando no Congresso, privatizações, um plano de vacinação sendo executado de forma rápida, números de mortes da pandemia diminuindo e expectativa de que dólar perca valor diante de outras moedas, podemos ter sim uma valorização do real e câmbio um pouco mais abaixo do que estamos vendo”, avalia Oltramari. Com a ressalva de que não necessariamente chegando ao valor mencionado pelo ministro. “Vale destacar que o real é uma das moedas que mais se desvalorizaram no último ano diante do dólar."

A estimativa de analistas e economistas do mercado financeiro, de acordo com a última edição do boletim Focus, é que o dólar chegue ao fim de 2021 cotado por R$ 5,37.  Portanto, a maioria do mercado trabalha com projeções de queda na cotação do dólar até o fim deste ano.

Última modificação em 26/07/2022 14:03

Regina Pitoscia

Foi colaboradora das revistas Exame, Cláudia e Nova. Formada em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da USP, cursou Extensão Universitária em Economia na Fundação Getúlio Vargas (FGV) São Paulo e na Faculdade de Economia e Administração da USP, Extensão Universitária em Mercado de Capitais e Finanças Pessoais no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), e Máster em Varejo pela FIA-USP. Recebeu Prêmio Esso de Jornalismo/Economia, de 1989, com reportagem “Seu Fundo de Garantia pelo Ralo”. Atuou como editora dos Cadernos de Finanças Pessoais: “Seu Dinheiro” no Jornal da Tarde, “Suas Contas” e “Fundos & Cia” no Estadão.

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