Finanças

Entenda por que o dólar foi o pior investimento de abril

Redução das preocupações de investidores com risco de descontrole fiscal predominou

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O dólar levou um tombo em abril. Em persistente queda, fechou com desvalorização de 3,49%, a primeira perda mensal no ano, que empurrou a moeda americana para a última posição no ranking do mês.

Um dos fatores que tiraram a sustentação do dólar em abril, segundo especialistas, foi a redução das preocupações de investidores e do mercado com o risco de descontrole fiscal, após a sanção do Orçamento 2021 pelo presidente Bolsonaro sem o aumento de despesas que poderiam furar o teto de gastos e agravar as contas públicas.

Aprovação do orçamento 2021 tirou sustentação da moeda norte-americana em abril (foto: karolina grabowska no pexels)

O temor de agravamento do desarranjo fiscal com o atendimento da chuva de emendas parlamentares vinha pressionando o dólar, um ativo visto como proteção em momentos de incerteza política e econômica.

Contribuiu ainda para a queda do dólar ao longo de abril a elevação da taxa básica de juros, a Selic, de 2% para 2,75% ao ano, em março, vista pelo mercado financeiro como uma disposição firme do Banco Central (BC) de conter a inflação que ameaçava uma escalada.

A inflação em alta, que ensaiava sair de controle, elevava o risco País e   pressionava o dólar, puxando para cima a inflação. A decisão do BC de elevar 0,75 ponto porcentual a Selic, acima de 0,50 ponto esperado quase consensualmente pelo mercado, fortaleceu a credibilidade da autoridade monetária e acalmou os mercados, especialmente o de dólar.

Tanto as incertezas derivadas do impasse em relação ao Orçamento quanto o cenário de agravamento de risco com a aceleração inflacionária e juros baixos vinham dando gás à valorização do dólar. Investidores mais ressabiados passaram a procurar proteção para seu patrimônio no câmbio, que já vem pressionado, pelos mesmos motivos, pelo movimento de retirada de capital do País pelos investidores estrangeiros.

Ademais, o dólar passou por desvalorização global ao longo de abril, o que ajudou a empurrar para baixo as cotações domésticas. Ainda assim, as moedas de países emergentes com economias pares com o Brasil têm um desempenho menos pior que o real diante do dólar no ano, até abril. Um desalinhamento que os especialistas atribuem à persistência de incertezas políticas, econômicas e com a pandemia, sem as quais, acreditam, o dólar estaria abaixo dos níveis atuais.

A economista e estrategista do banco Ourinvest, Fernanda Consorte, diz que o cenário de incertezas da economia brasileira põe em dúvida a continuidade de queda do dólar, ocorrida em abril, nas próximas semanas. Isso apesar do crescimento econômico dos principais parceiros comerciais do País, como Estados Unidos e China, e a aparente disposição do presidente da Câmara, Arthur Lira, de lidar com boa vontade as propostas de reformas econômicas, principalmente a tributária.

Última modificação em 26/07/2022 08:16

Regina Pitoscia

Foi colaboradora das revistas Exame, Cláudia e Nova. Formada em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da USP, cursou Extensão Universitária em Economia na Fundação Getúlio Vargas (FGV) São Paulo e na Faculdade de Economia e Administração da USP, Extensão Universitária em Mercado de Capitais e Finanças Pessoais no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), e Máster em Varejo pela FIA-USP. Recebeu Prêmio Esso de Jornalismo/Economia, de 1989, com reportagem “Seu Fundo de Garantia pelo Ralo”. Atuou como editora dos Cadernos de Finanças Pessoais: “Seu Dinheiro” no Jornal da Tarde, “Suas Contas” e “Fundos & Cia” no Estadão.

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