Finanças

Entenda por que títulos que remuneram pela inflação estão atraentes

Com a taxa básica de juros, a Selic, em trajetória de alta, investidor deve aproveitar o momento para investir nesses papeis

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Fatores de natureza técnica no mercado de juros têm elevado a rentabilidade dos títulos públicos indexados à inflação. As preocupações com o risco fiscal, agravadas pela indefinição em torno do Orçamento 2021 e combinadas com a inflação em alta têm levado o mercado financeiro a pedir mais rentabilidade em leilões de títulos públicos.

A reivindicação levou também a uma mudança na estratégia do Tesouro, que passou a ofertar lote maior de títulos indexados à inflação, as NTNs-B (Notas do Tesouro Nacional da série B) e a reduzir a colocação de LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), atreladas à Selic. Foi o que ocorreu no último leilão, na terça-feira, 6.

O pedido dos investidores faz sentido. A NTN-B assegura juro real, previamente conhecido, e proteção contra a inflação, ao espetar em sua  rentabilidade a correção monetária, idêntica à inflação medida pelo IPCA.

A LFT, a que os investidores passaram a torcer o nariz, rende a taxa básica de juros, a Selic. Uma taxa que corre abaixo da inflação. Ela subiu de 2% para 2,75% ao ano, por decisão do Copom de março, e já estaria contratado novo ajuste, de 0,75 ponto porcentual, para 3,50%, em maio.

Novas altas devem elevar a Selic para um patamar em torno de 5% até o  fechamento do ano, estimam economistas e analistas do mercado, para uma inflação projetada ao redor de 4,80%. É o que indicam dados da última edição do boletim Focus, do Banco Central (BC).

Ainda que a Selic chegue ao fim de 2021 ligeiramente acima da inflação, como estima o mercado, o juro referenciado na taxa básica de 2,75%, de momento, seria negativo, abaixo da inflação corrente. Caso da LFT, que os investidores querem deixar de lado para embarcar nas NTNs-B.

O economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, diz que a mudança de estratégia do Tesouro no leilão de títulos públicos levou a um aumento da oferta de NTNs-B no mercado e as taxas abriram. O que isso significa do ponto de vista do investidor? Equivale a um rendimento maior para o comprador desse título

Quando cai valor do título, rendimento do investidor aumenta

Uma das características desse papel com juro prefixado é que, quando a oferta aumenta e seu valor cai, a rentabilidade aumenta, “um movimento que tem elevado o prêmio (parcela de ganho) sobre o juro da NTN-B”, diz Miraglia. “Quem compra NTN-B está, portanto, travando o juro real.”

A NTN-B é o mesmo título que o investidor pessoa física compra como Tesouro IPCA na plataforma do Tesouro Direto. Assegura juro real prefixado e correção monetária pela inflação oficial, mas exige investimento por períodos mais longos.

Não é, portanto, uma aplicação indicada para recursos que formam a reserva emergencial para uso a qualquer momento. O dinheiro a ser investido não deve estar amarrado a compromissos de curto prazo.

As condições oferecidas pelo papel são atraentes, mas valem para quem fizer o resgate apenas no vencimento. Antes disso, o investidor corre o risco de perda, embolsando ganho rentabilidade menor que o prometida   pelo título no momento da compra.

 

Última modificação em 26/07/2022 16:35

Regina Pitoscia

Foi colaboradora das revistas Exame, Cláudia e Nova. Formada em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da USP, cursou Extensão Universitária em Economia na Fundação Getúlio Vargas (FGV) São Paulo e na Faculdade de Economia e Administração da USP, Extensão Universitária em Mercado de Capitais e Finanças Pessoais no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), e Máster em Varejo pela FIA-USP. Recebeu Prêmio Esso de Jornalismo/Economia, de 1989, com reportagem “Seu Fundo de Garantia pelo Ralo”. Atuou como editora dos Cadernos de Finanças Pessoais: “Seu Dinheiro” no Jornal da Tarde, “Suas Contas” e “Fundos & Cia” no Estadão.

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