Finanças

Risco político desvaloriza ações de empresas estatais

Em 2021, até 15 de abril, o Ibovespa subiu 1,41%, enquanto as Banco do Brasil ON recuou 22,29% e Petrobras PN, 15,79%

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As ações das principais empresas estatais, como as do Banco do Brasil e da Petrobras, estão em queda livre na bolsa de valores. O aumento do risco político por causa da interferência do presidente Jair Bolsonaro na direção e, por tabela, na gestão dessas companhias derrubou os preços desses papeis no mercado. A tal ponto que especialistas veem como convidativos para a compra, embora apontem o risco de ingerência governamental com fator que restringe a atratividade do investimento.

Desde o início do ano até 15 de abril, o Ibovespa (Índice Bovespa, principal referência da B3) acumulou valorização de 1,41%, mas as ações das estatais de maior destaque andaram para trás: Banco do Brasil ON recuou 22,29% e Petrobras PN, 15,79% no período. Eletrobras ON caiu 2,32%.

Troca de comando  e ingerências no banco do brasil geram apreensões entre os investidores

O estresse nas estatais provocado por ruídos políticos vem desde janeiro. Na Petrobras, foi a decisão do presidente Bolsonaro de tirar Roberto Castello Branco da presidência e, no Banco do Brasil, a crise que levou à saída de André Brandão, que elaborava um plano de reestruturação, com demissões voluntárias e fechamento de agências.

Os investidores reagiram mal às interferências do governo e as ações dessas estatais vêm perdendo valor. “O mercado entendeu que as ingerências criam incertezas em relação à governança dessas companhias e podem comprometer o desempenho delas”, explica Eduardo Santalucia, sócio da Santa Investimentos. Para ele, “as ações do Banco do Brasil estão convidativas, quase de graça”.

Santalucia diz que os papeis do BB estão bastante abaixo das ações dos principais bancos privados. A questão, diz ele, é que não se sabe a política de gestão que será adotada pela nova direção, se ela poderá prejudicar o resultado do banco. “Na dúvida, o investidor fica fora, não adianta o papel do banco estar barato se o investimento não tiver atratividade.”

A desconfiança do mercado com a gestão futura das companhias a partir da troca de comando fez com que as estatais fossem excluídas das listas de recomendações que as corretoras encaminham mensalmente a seus clientes. “Não é questão de saber se as ações dessas companhias que têm o controle do governo estão baratas ou não. O problema são as interferências. Até porque tem outras opções interessantes no mercado, ações com preços também descontados, sem o risco político”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Os papéis de petrobras também são influenciados negativamente com interferências nos preços dos combustíveis e na direção da empresa

Segundo ele, ações de BB e Petrobras são as que mais sofrem no mercado. Principalmente as do BB, cujas ações estão sendo trocadas de mãos por preços considerados baixos. Movimento que se acentuou após o cancelamento da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do Banco Votorantim (BV), controlado pelo BB em parceria com o Grupo Votorantim.

As ações da Eletrobrás, também em baixa no mercado, estão com desempenho negativo, embora menor que as do BB e Petrobrás, por causa de dúvidas sobre seu processo de privatização.

Para especialistas, o risco político fica acentuado à medida que se aproximam as eleições presidenciais de 2022. O temor é de que o governo use as estatais em favor de sua campanha. No caso da Petrobras, interferir na política de preços para frear os reajustes de combustíveis, um tema que tem forte apelo popular. E interferir na Caixa para a concessão de crédito subsidiado, algo que cola bem nas campanhas eleitorais. Como ocorreu nas eleições presidenciais de 2014 que levaram a candidata Dilma Rousseff ao segundo mandato presidencial.

Última modificação em 26/07/2022 13:05

Regina Pitoscia

Foi colaboradora das revistas Exame, Cláudia e Nova. Formada em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da USP, cursou Extensão Universitária em Economia na Fundação Getúlio Vargas (FGV) São Paulo e na Faculdade de Economia e Administração da USP, Extensão Universitária em Mercado de Capitais e Finanças Pessoais no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), e Máster em Varejo pela FIA-USP. Recebeu Prêmio Esso de Jornalismo/Economia, de 1989, com reportagem “Seu Fundo de Garantia pelo Ralo”. Atuou como editora dos Cadernos de Finanças Pessoais: “Seu Dinheiro” no Jornal da Tarde, “Suas Contas” e “Fundos & Cia” no Estadão.

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