Saúde

Como surgiu o Setembro Amarelo e por que ele é tão importante?

No mundo, cerca de 1 milhão de pessoas se suicidam todos os anos. A tendência é que o número aumente 50% só nesse ano. O Setembro Amarelo é uma campanha que procura reduzir esses números. Saiba como surgiu o Setembro Amarelo e por que ele é tão importante.

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O Setembro Amarelo é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio.

Até você terminar de ler essa matéria, 5 pessoas tirarão a própria vida. Essa é uma realidade triste e dolorosa, mas não devemos ignorá-la. O suicídio é um problema que, só no Brasil, ceifa 12 mil vidas todos os anos.

São ao menos 1 milhão de casos por ano no mundo. A partir de uma dessas histórias trágicas foi como surgiu o Setembro Amarelo, uma iniciativa que busca prevenir e reduzir essa estatística por meio da conscientização social.

 

Imagem: reprodução / cvv

 

O suicídio ainda é um tema tabu, que muitas pessoas preferem ignorar pelo desconforto que causa. Contudo ele precisa estar em pauta, pois além da razão óbvia que é a perda de uma vida, gera um sofrimento intenso que cria consequências psicológicas e se estende a todas as pessoas envolvidas com o suicida.

Dados de pesquisas mostram que cerca de 60 pessoas são afetadas por cada morte por suicídio, incluindo família, amigos e colegas.

Desse modo, são cerca de 60 milhões de pessoas expostas ao luto do suicídio anualmente no mundo. Iniciativas como o Setembro Amarelo dão luz ao assunto como estratégia de prevenção.

 

Como surgiu o Setembro Amarelo?

No Brasil, a iniciativa da campanha é uma parceria da Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP com o Conselho Federal de Medicina – CFM, desde 2014.

No entanto, a origem do Setembro Amarelo é norte-americana e surgiu pelo suicídio de Mike Emme, de 17 anos. Mike tinha um Mustang 68 que ele mesmo reformou e pintou de amarelo. Por isso, ele era conhecido como “Mustang Mike”.

Infelizmente, apesar de parecer que tudo estava bem, no dia 8 de setembro de 1994 os pais do jovem o encontraram sem vida dentro do Mustang. Mike atirou em si mesmo.

 

Imagem: reprodução / cvv

 

Em meio ao sofrimento da perda do filho, os pais perceberam que o rapaz não conseguiu pedir ajuda e que esse era um fator comum entre tantos casos de suicídio. Então, no dia do velório, fizeram uma cesta com cartões com a mensagem “Se você precisar, peça ajuda.".

Ademais, em cada cartão, prenderam uma fita amarela. A iniciativa foi o primeiro e importante passo para um movimento de prevenção ao suicídio, pois os cartões chegaram realmente às mãos de pessoas que precisavam de apoio.

Ainda que a história de Mike seja triste, ela é um cenário muito comum. Isso porque o suicídio cresce especialmente entre os jovens. Estima-se que em 2020 ele aumente 50%, sendo que 96,8% dos casos têm ligação com doenças psicológicas não diagnosticadas e não tratadas.

 

Prevenção ao suicídio

Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e dependência/abuso de substâncias. Por isso iniciativas como o Setembro Amarelo são tão importantes, já que a disseminação do conhecimento capacita a comunidade a identificar sinais de que alguém precisa de ajuda e, assim, dar o suporte necessário e conduzir a um tratamento.

Afinal, quanto menos laços sociais tem um indivíduo, maior o risco de suicídio – daí a importância de uma rede de apoio.

 

Sinais que merecem atenção

Em muitos casos de suicídio, as pessoas explicitam a sua vontade de morrer – e algumas vezes, quem está ao redor não acredita.

Por isso, um dos objetivos desde que o Setembro Amarelo surgiu é entender os padrões que as pessoas que têm pensamentos suicidas apresentam, pois isso pode salvar uma vida. Entre eles, destacam-se:

  • Ambivalência: A pessoa se divide entre viver e morrer. Morrer seria a solução dos seus problemas e cessaria suas dores, mas há o desejo de sobreviver aos problemas. Com o apoio profissional correto e necessário, é possível reforçar nessa pessoa o desejo de viver.
  • Impulsividade: Por mais que um indivíduo planeje o suicídio, o impulso dura por alguns minutos ou horas. Entre as principais motivações estão: rejeições, fracasso, falência, morte de alguém querido... Acolher a pessoa nesse momento pode interromper esse impulso.
  • Rigidez: Quando alguém tem pensamentos suicidas, é como se essa fosse a única solução. Isso é resultado do sofrimento que a pessoa enfrenta.

 

Imagem: reprodução / unsplash

 

Fatores de risco

Além disso, há dois principais fatores que aumentam o risco de suicídio:

  • Tentativa prévia: Pacientes que tentaram suicídio previamente têm de cinco a seis vezes mais chances de tentar suicídio novamente. Estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já tinham tentado previamente.
  • Doença mental: Quase todos os suicidas (96,8%) tinham alguma doença mental não identificada ou não tratada. Os transtornos mais comuns são depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de outras drogas, transtornos de personalidade e esquizofrenia. Todas essas doenças são tratadas com medicamentos e psicoterapia.

Como ajudar e onde encontrar ajuda

Por último, se você conhece alguém que apresenta alguns sinais, siga essas dicas simples, mas muito efetivas, de acordo com o Centro de Valorização à Vida (CVV):

  • Ofereça seu apoio num momento tranquilo e fale sobre suicídio com essa pessoa. Escute com atenção e carinho, com a mente aberta, e deixe ela perceber que você quer ajudá-la.
  • Incentive a pessoa a buscar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. Ofereça sua companhia para ir ao atendimento.
  • Não deixe essa pessoa sozinha se você acha que ela está em perigo imediato. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa
  • Se a pessoa em questão vive com você, tenha certeza de que ela não tem acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo: venenos, armas ou medicamentos) em casa.
  • Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo.
  • Se você precisa de ajuda, pode procurar o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da sua cidade, ou qualquer Unidade Básica de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde). Em situações de risco, ligue 192 para entrar em contato com o Serviço Móvel de Urgência (SAMU).
  • Outro canal de ajuda é o Centro de Valorização à Vida (CVV). Essa entidade oferece apoio emocional e prevenção do suicídio de forma voluntária e gratuita. Atende por telefone pelo número 188 todas as pessoas que querem e precisam conversar, com sigilo total. Também conversam por email e chat 24 horas todos os dias.

 

Fontes: Ministério da Saúde e Centro de Valorização à Vida

Última modificação em 29/07/2022 09:12

Briana K. Klaus

Jornalista de formação. Curiosa de natureza. Malabarista de palavras. Gostadora de enxergar.

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