Economia

Setor automotivo opera com ociosidade superior a 30%, aponta FGV

Segundo o Nuci (Nível de Utilização da Capacidade Instalada), as indústrias brasileiras ainda sofrem com a desaceleração devido a pandemia

A indústria brasileira segue sofrendo os danos causados pela pandemia da Covid-19 no país. Em alguns setores da economia, os dados são alarmantes. Os fabricantes do setor automotivo e produtos de metal, por exemplo, registraram uma inatividade média superior a 30% em suas fábricas nos últimos quatro meses. Os dados são da Sondagem da Indústria do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), que foram obtidos com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.

 

Setor automotivo tem baixo índice de capacidade instalada

O índice utilizado para medir a ociosidade  das empresas neste caso é o Nuci (Nível de Utilização da Capacidade Instalada). As indústrias do setor automotivo, no período que se estendeu de 2010 a 2015, antes das duas últimas crises econômicas, atingiram uma média histórica de 83,54%. Na contramão do sucesso pré-crise, nos quatro últimos meses de 2020, a ociosidade permaneceu elevada na indústria, com uma média de apenas 69,33% da capacidade instalada. A indústria de produtos de metal também não pode proclamar êxito. Ela operava até o mês passado com 67,48% da capacidade, consideravelmente abaixo da média de 77,88%.

 

Outros setores com ociosidade elevada em relação às suas próprias médias históricas foram informática, eletrônicos e ópticos, com um nível de utilização da capacidade instalada de 73,3% de setembro a dezembro de 2020, que concorre com uma média histórica de 83,17%. O setor de máquinas e equipamentos, que alcançava uma média histórica de 79,64%, atualmente opera com uma média de 70,9% da sua capacidade. A indústria metalúrgica atingia média histórica de 83,93%, hoje em dia, opera com Nuci de 78,78%.

A pesquisa mostra que, dos 16 principais subsetores analisados na sondagem, apenas sete já superaram a média histórica de uso da capacidade instalada. 

 

Indústria de vestuário aponta melhora no índice Nuci

Apesar destes setores apresentarem dados que necessitam alerta, pois estão operando com média consideravelmente inferior à sua capacidade de produção, outras indústrias apresentam dados positivos. Segundo a pesquisa, a recuperação tem sido impulsionada pelo auxílio emergencial, exportações e mudança no padrão de consumo das famílias durante a pandemia. 

 

"A retomada não vem de forma ordeira e homogênea, ela vem de forma heterogênea, errática, tanto sob a ótica da produção quanto da utilização da capacidade instalada. A disseminação da recuperação vai depender da robustez do crescimento. Tudo está apontando para dias melhores, embora tenhamos desafios, como o fim do auxílio emergencial, o desemprego elevado e a curva da pandemia piorando", avaliou Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

 

Um dos setores que pode considerar seus dados positivos é o da indústria de transformação. São as fábricas que transformam aço em máquinas ou ferramentas, bem como a produção agroindustrial que transforma cana em açúcar, por exemplo. Esta indústria operava com 79,25% da capacidade instalada, em média, de setembro a dezembro de 2020. O lado bom é que, no período entre 2010 a 2015, antes das duas últimas crises econômicas, o setor registrava uma média histórica de 81,96%. Os dados se aproximam, portanto, indicam um episódio favorável. 

 

A melhora atual, no entanto, é graças aos setores como o de vestuário e celulose, nos quais o Nuci superou os 90%. "Apesar de não ser um nível absurdo, começamos a ter um superaquecimento em alguns setores. Temos relatos de falta de insumos, mas o comércio online bombou a indústria de papelão ondulado, por exemplo. Quando você vende online, você reempacota o produto. Alguns setores são beneficiados por questões idiossincráticas da pandemia. Outras atividades mostram reação porque tinham perdido muito durante a crise, como vestuário", apontou o superintendente de Estatísticas Públicas do Ibre/FGV, Aloisio Campelo Júnior.

Última modificação em 27/07/2022 17:19

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