Investimentos

Título atrelado à inflação ou ao juro, qual rende mais?

Apesar das recentes altas da taxa básica de juros, na corrida dos investimentos a inflação está na frente

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Houve época em que o investidor não tinha dúvida: em cenário de juros em alta, como agora, escolhia o título com juro pós-fixado atrelado à taxa básica de juros, a Selic. Uma escolha vantajosa, porque o rendimento acompanhava a variação da taxa básica. Isso quando a Selic rodava com folga acima da inflação e embutia margem de ganho positivo ao investidor.

Os tempos agora são outros. A Selic já vem de dois aumentos, em março e maio, subiu para 3,50% ao ano, mas permanece negativa em relação à inflação corrente. Quem está agarrado a título que rende a Selic continua perdendo para a inflação.

Uma opção ao título indexado à Selic é o papel atrelado à correção monetária, de acordo com a inflação, mais uma parcela de juro, previamente definido. A correção pela inflação é a garantia de que a parcela desvalorizada do capital será reposta por esse mecanismo e o juro prefixado a certeza de que o rendimento será sempre positivo.

A plataforma do Tesouro Direto, que permite a compra de títulos públicos pela internet ao investidor pessoa física, oferece as duas modalidades de papel: um atrelado à taxa Selic, o Tesouro Selic, que acompanha variação da taxa básica de juro, e outro indexado à inflação, o Tesouro IPCA, que rende juro prefixado mais correção monetária pelo IPCA, a inflação oficial.

Título Selic versus Título IPCA

Com a Selic estimada pelo boletim Focus em 5,50% no fim do ano, o Tesouro Selic, cujo rendimento transita pelo terreno negativo no momento, deve fechar 2021 rendendo 5,50% ao ano para uma inflação pelo IPCA projetada, também pelo Focus, em 5,24%. Selic e inflação chegariam ao fim do ano praticamente emparelhadas, pelo menos nas projeções, com estreita margem de juro real embutida na taxa básica.

Na plataforma do Tesouro Direto, o Tesouro Selic 2024, com vencimento em 1º de setembro de 2024, foi oferecido na terça-feira, dia 25, com prêmio de 0,2437% acima da Selic de 3,50%, ou seja, Selic + 0,2437%.

O Tesouro IPCA 2026, com vencimento em 15 de agosto de 2026, o mais recomendado pelos analistas, foi ofertado com correção monetária pelo IPCA mais juro de 3,55% ao ano. Ou seja, IPCA + 3,55% de juro real ao ano.

Olhando a remuneração dos dois títulos – Selic + 0,2437 e IPCA + 3,55% - e os vencimentos, 2024 e 2026, respectivamente, o mais atraente seria o Tesouro IPCA, que garante juro real e correção monetária em vencimento dois anos depois do Tesouro Selic.

O Tesouro Selic está com indexador abaixo da inflação, pode chegar ao fim do ano empatado com ela, mas não dá para saber como será daí para a frente. A dúvida é saber se a Selic nominal em alta poderá passar a guardar boa margem sobre a inflação, de modo a assegurar um juro real mais encorpado, ou se permanecerá rodando quase colada na inflação, quando não abaixo dela. Afinal, o tempo de juros altos, como se tem alardeado tanto, teria ficado para trás.

Ademais, o Tesouro Selic acompanha a alta dos juros, mas é preciso saber também como o Banco Central vai calibrar a Selic em um momento de reordenamento da política de juros à luz do possível fim de estímulos monetários.

Última modificação em 20/12/2022 09:54

Regina Pitoscia

Foi colaboradora das revistas Exame, Cláudia e Nova. Formada em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da USP, cursou Extensão Universitária em Economia na Fundação Getúlio Vargas (FGV) São Paulo e na Faculdade de Economia e Administração da USP, Extensão Universitária em Mercado de Capitais e Finanças Pessoais no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), e Máster em Varejo pela FIA-USP. Recebeu Prêmio Esso de Jornalismo/Economia, de 1989, com reportagem “Seu Fundo de Garantia pelo Ralo”. Atuou como editora dos Cadernos de Finanças Pessoais: “Seu Dinheiro” no Jornal da Tarde, “Suas Contas” e “Fundos & Cia” no Estadão.

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