Tela Quente de hoje exibe o filme católico Fátima – A História de um Milagre
Filme começa após a novela Três Graças
Nesta segunda-feira, 8 de dezembro, o público Tela Quente hoje vai conferir o filme católico Fátima – A História de um Milagre, com Harvey Keitel, Goran Visnjic e Sônia Braga no elenco. A exibição começa logo após a novela Três Graças, a partir das 22h25 (de Brasília).
História do filme da Tela Quente hoje
Em 1917, na cidade de Fátima, em Portugal, três crianças afirmaram ter testemunhado aparições da Virgem Maria. Lúcia dos Santos e seus primos Francisco e Jacinta Marto relataram uma figura “mais brilhante que o sol”, com “raios de luz” emanando do corpo. A notícia espalhou-se rapidamente e transformou o local em destino de peregrinação, algo que permanece até hoje. Francisco e Jacinta morreram na pandemia de gripe de 1918, mas Lúcia seguiu vida longa, tornou-se freira e registrou suas memórias, que se tornaram a principal fonte do que o mundo conhece como o Milagre de Fátima.
É essa história que Marco Pontecorvo recria em Fátima. O diretor acompanha o impacto das visões na vida das crianças e de suas famílias, diante da descrença de autoridades civis e religiosas. A narrativa aposta em sobriedade: a experiência do sagrado surge sempre ancorada no cotidiano, na textura do real, como se o divino irrompesse dentro de um mesmo mundo palpável.
Filho de Gillo Pontecorvo (A Batalha de Argel), Marco estrutura o filme em dois tempos. Em 1989, um escritor cético vivido por Harvey Keitel visita a Irmã Lúcia idosa, interpretada por Sônia Braga. O diálogo entre os dois cria um contraponto intelectual à história das aparições: ele questiona, ela argumenta com serenidade e humor. “Nem tudo que é inexplicável é necessariamente transcendente”, diz Keitel. Lúcia responde: “A fé começa na fronteira da compreensão”. O encontro evita o embate panfletário e abre espaço para dúvida e crença coexistirem.
A ação principal se concentra em 1917, com a jovem Lúcia (Stephanie Gil) e os primos aguardando a aparição (Joana Ribeiro) nos campos empoeirados. A Virgem surge descalça, de branco, com mensagem direta: a guerra precisa acabar. O conflito já consumiu o irmão de Lúcia, desaparecido no front, e sua mãe (Lucia Moniz) reage com desconfiança e desespero, por que a escolha recaiu sobre uma menina comum? O prefeito (Goran Visnjic), pragmático e preocupado com a comoção pública, fecha a igreja e pressiona as crianças. Mesmo a Igreja hesita. Mas Lúcia insiste: “Ela era tão real quanto você”.
A força do filme está no cuidado com os personagens. Pais, padres, autoridade local, ninguém é tratado como antagonista puro. Todos os adultos enfrentam incertezas: fé, medo, política e reputação se misturam. Há camadas humanas sob cada gesto de resistência ou desconfiança.
Ao retratar milagres, o cinema costuma cair no excesso ou no artifício. Pontecorvo e o diretor de fotografia Vincenzo Carpineta escolhem o caminho oposto: a câmera repousa na paisagem, no vento que move a grama, nas folhas que sussurram algo além do visível. A natureza torna-se mediadora do mistério, sugerindo que o sobrenatural não precisa de espetáculo. Terrence Malick é referência inevitável nessa abordagem, Fátima não alcança sua abstração poética, mas compartilha da ideia de que o espiritual nasce do que é terreno. Em contrapartida, a sequência da visão do inferno destoa: literal demais, efeitos em excesso, impacto de menos.
O cinema já visitou Fátima diversas vezes, da produção clássica da Warner, em 1952, às obras religiosas contemporâneas como A Paixão de Cristo e Silêncio. Fátima se diferencia ao tratar a fé com a mesma seriedade dedicada à condição humana. Não há provocação nem proselitismo: apenas a observação de pessoas comuns tentando decifrar algo para além de si. E é nessa simplicidade que o filme encontra sua maior verdade.