Demora na retomada econômica e "má gestão" na alocação de recursos impulsionam aumento da Dívida Pública Federal em 2017.
São Paulo - O aumento da Dívida Pública Federal (DPF) deve ser superior a 10% em 2017 e pode continuar trajetória de alta pelos próximos dois anos, impulsionado pela demora na retomada econômica e "má gestão" na alocação de recursos. No mês de junho, segundo os últimos dados do relatório mensal da DPF, divulgado pelo Tesouro Nacional, o estoque da dívida pública demonstrou um crescimento nominal de 3,22% em relação a maio (de R$ 3,253 trilhões para R$ 3,357 trilhões).
Em relação à dezembro de 2016 (R$ 3,112 bilhões), na emissão de dívidas públicas, o aumento foi de 7,8%.Segundo os especialistas consultados pelo DCI, por ser reflexo do déficit fiscal, a emissão de títulos públicos tende a continuar sendo a principal saída para o controle orçamentário do governo. "Apesar de declinante, a alta conta de juros e o déficit primário ainda alavancarão a emissão de títulos do governo. Com a situação fiscal ruim, a dívida deve evoluir por algum tempo", diz o professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV), Nelson Marconi. Ao mesmo tempo, porém, o professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Marcos Melo, pondera que "não há outra saída" para tentar fechar o orçamento público." As alternativas são ou aumento tributário ou emissão de dívida. Apesar da alta de imposto nos combustíveis na semana passada, a arrecadação ainda não será suficiente. O que sobra é emissão de título para o governo tentar se financiar", explica Melo.
Ainda de acordo com o Tesouro, as projeções estabelecidas no Plano Anual de Financiamento (PAF) mostram expectativa de que a DPF deve oscilar entre R$ 3,450 trilhões e R$ 3,650 trilhões. Segundo o professor de economia do Insper, Otto Nogami, apesar de significar um crescimento entre 10,8% e 17,2%, respectivamente, a tendência negativa deve pesar um pouco mais nas estimativas. "Ainda mais em um cenário onde o PIB [Produto Interno Bruto] não avança na velocidade desejada e a meta de déficit corre o risco de ser ultrapassada, a realidade tende a ser diferente do que as visões mais otimistas", analisa Nogami. Ele completa que o movimento atual sinaliza que o aumento da DPF continuará, pelo menos, durante os próximos dois anos. "A previsão para 2018 é de déficit alto e isso mostra que o governo não consegue obter saldo positivo sequer para pagar juros. Isso faz com que ele tenha que rolar dívida, pagar déficit e ainda financiar a amortização do que vencer nos próximos anos. Querendo ou não, é um grande entrave", acrescenta o especialista.
Outro ponto abordado pelos entrevistados foi a queda observada na participação de investidores estrangeiros. De acordo com dados do relatório mensal da DPF, a participação de não-residentes saiu de 13,42% em maio para 12,9% em junho. Em dezembro do ano passado, era 14,33%.Segundo Marconi, o recuo é resultado de fatores internos e externos combinados. "De um lado, o risco Brasil subiu com a crise política, mas de outro, é a expectativa de que os juros devem aumentar nos Estados Unidos, o que tende a promover uma onda de realocações em função disso", comenta.
Segundo Nogami, o investidor estrangeiro também começa a ver perspectiva de juros. "Porque o risco está mais alto, os juros deveriam compensar o retorno, mas a trajetória é de queda e isso afugenta o investidor estrangeiro", avalia. Neste sentido, porém, os especialistas explicam que como a dívida externa é bem menor do que a interna na composição da DPF, o número menor de não-residentes não deve ter "grandes impactos" e a expectativa é de retorno em 2018."Eles provavelmente vão esperar a melhoria do cenário político e uma estabilidade melhor para ter retorno nos investimentos, mas com certeza voltarão", afirma Marconi.
Última modificação em 29/07/2022 12:06
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