Economia

Inflação de abril ficou em 0,31%; veja os efeitos no seu bolso

Efeitos negativos poderão ser sentidos pelo descompasso entre a inflação e a taxa de juros, ainda abaixo do IPCA

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A inflação oficial desacelerou em abril. Recuou para 0,31% pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado nesta terça-feira, 10,  pelo IBGE, ficando abaixo da alta dos preços em março,  de 0,93%.

Apesar da baixa, os efeitos negativos da recente aceleração inflacionária ainda serão sentidos no bolso, tanto pelo investidor quanto pelo tomador de crédito. O investidor, pelo descompasso ainda existente entre a inflação, elevada, e a taxa de juros, que, embora em alta, na esteira do ajuste da Selic, permanece correndo, por enquanto, abaixo do IPCA.

Inflação registrada no mês de abril pelo ipca superou o rendimento pago nas aplicações de renda fixa. Foto: arquivo

Em abril, mais uma vez, a quase totalidade das aplicações de renda fixa rendeu menos que a inflação corrente no mês, de 0,31% pelo IPCA, ainda que a taxa Selic tenha subido de 2,00% ao ano para 2,75%, no mês anterior, em março.

Em maio, em nova reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), a taxa básica avançou de 2,75% para 3,50%, uma alta considerada ainda insuficiente para que a renda fixa recupere a margem real de ganho perdida diante de uma inflação mais elevada.

A Selic, para efeito de cálculo de rendimento da renda fixa, é considerada ou contada apenas nos dias úteis do mês, que são 21 em maio. Isso significa, pelos cálculos de Eduardo Santalucia, sócio da Santa Investimentos, que a Selic de 3,50% ao ano equivale a uma taxa diária de 0,0136 % ou 0,286% ao mês. Em conta simples, a renda fixa não terá perda ou juro negativo se o IPCA deste mês for igual ou inferior a 0,28%.

De todo modo, a perda, se persistir, tende a ficar menor à medida que a inflação se desacelerar e a Selic permanecer em alta, como sinaliza o Banco Central (BC) e projeta o mercado financeiro.

Em 12 meses, inflação acumulada chega a 6,76%

O BC já antecipou que a Selic pode ter novo ajuste de 0,75 ponto porcentual na próxima reunião do Copom em junho, quando o juro básico poderia ir a 4,25% ao ano. E seguiria em marcha batida de alta, pelas estimativas do mercado financeiro, que prevê o fechamento de 2021 com o juro básico equilibrado em 5,50% ao ano e uma inflação de 5,06%, pela variação acumulada do IPCA ao longo deste ano.

A inflação acumulada pelo IPCA no ano, em quatro meses, está em 2,37%, mas chega a 6,76% na contagem acumulada dos últimos 12 meses, até abril. Um nível de IPCA que está acima da meta central de 3,75% que o BC mira ao calibrar a Selic em cada reunião do Copom, e do teto da margem de tolerância, 1,50 ponto porcentual acima, ou 5,25%.

Esse é o motivo pelo qual, embora a inflação esteja em aparente desaceleração, o BC acene continuar com novos ajustes na Selic, mirando também a inflação do próximo ano, estimada por enquanto em 3,61% ao ano, frente a uma Selic prevista de 6,25% ao ano no fechamento de 2022.

O juro básico em torno de 6,25% esperado pelo mercado financeiro no fim do ano que vem, de acordo com o boletim Focus, embute a expectativa de que o BC continuará elevando a taxa Selic este ano e também em 2022.

Uma tendência que favorece os investidores, pelo menos com alta nominal dos juros, mas terá efeito pesado no bolso dos tomadores de crédito, cujo custo sobe muitas vezes antecipadamente diante de expectativas de que vêm novas altas do juro básico.

Última modificação em 26/07/2022 07:17

Regina Pitoscia

Foi colaboradora das revistas Exame, Cláudia e Nova. Formada em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da USP, cursou Extensão Universitária em Economia na Fundação Getúlio Vargas (FGV) São Paulo e na Faculdade de Economia e Administração da USP, Extensão Universitária em Mercado de Capitais e Finanças Pessoais no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), e Máster em Varejo pela FIA-USP. Recebeu Prêmio Esso de Jornalismo/Economia, de 1989, com reportagem “Seu Fundo de Garantia pelo Ralo”. Atuou como editora dos Cadernos de Finanças Pessoais: “Seu Dinheiro” no Jornal da Tarde, “Suas Contas” e “Fundos & Cia” no Estadão.

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