Série O Gambito da Rainha bate recorde de audiência na Netflix ao quebrar estereótipos sobre o xadrez e atrai novo público para o esporte
No primeiro mês após o lançamento, a série O Gambito da Rainha bateu recorde de audiência na Netflix, com mais de 62 milhões de visualizações ao redor do mundo, e turbinou as vendas de livros e jogos de xadrez. Afinal, um esporte que podia parecer entediante ganhou emoção na adaptação do livro de Walter Tevis.
Quem joga xadrez, no entanto, já entende a emoção que uma partida pode proporcionar. Mas apenas um profissional sabe o que é estar sujeito à tensão e às pressões de um duelo decisivo. Tudo isso é retratado com fidelidade pela série, que teve a consultoria de Garry Kasparov, considerado o melhor enxadrista da história.
Outro estereótipo sobre o xadrez que O Gambito da Rainha põe em xeque é o domínio de homens no esporte. Afinal, a protagonista é Beth Harmon, uma garota órfã nos Estados Unidos dos anos 1950 que luta contra o vício em remédios enquanto desenvolve seu talento nos tabuleiros.
Curiosamente, a atriz Anya Taylor-Joy, que interpreta a personagem, já afirmou que não sabe nada de xadrez. Entender o jogo, entretanto, pode ajudar a assimilar melhor a trama da série. Além de ser um excelente passatempo, que aliás é tão antigo que ninguém sabe quem inventou.
O Gambito da Rainha é uma trama que gira em torno do xadrez, mas não depende só dele, e tampouco ensina a jogar. Apesar de ser um dos jogos mentais mais complexos já inventados, aprender os movimentos básicos e o objetivo do jogo não é tão difícil.
Primeiramente, vamos organizar as peças no tabuleiro. Na fileira mais próxima ao jogador, as duas torres ocupam as extremidades. Em seguida, os cavalos ficam ao lado das torres, e os bispos ao lado dos cavalos. A rainha ocupa a casa correspondente à sua cor, com o rei ao seu lado. Na fileira da frente, portanto, todos os oito peões ficam alinhados.
As brancas sempre começam a partida. Normalmente, o primeiro movimento é de um peão, que anda somente uma casa por vez para a frente, mas pode andar duas na primeira jogada. Na hora de capturar uma peça adversária, no entanto, o peão se move na diagonal.
O primeiro movimento também pode ser de um cavalo, pois esta é a única peça que pode “pular” sobre as outras. O cavalo faz o movimento de “L”: três casas para frente e uma para o lado, por exemplo. O bispo, por sua vez, anda sempre na diagonal, quantas casas quiser. A torre também pode percorrer todo o tabuleiro, mas somente na horizontal ou na vertical.
A peça mais importante é a dama, pois pode se mover em todas as direções, sem limite de casas. O rei também se move para qualquer lado, mas anda apenas uma casa. O ideal, no entanto, é nunca precisar mexer no seu rei.
Existem, ainda, movimentos especiais como o roque, em que o rei troca de posição com a torre, e a promoção, quando o peão alcança a última casa do outro lado do tabuleiro e pode “ressuscitar” uma peça já capturada.
Desde o primeiro movimento, o objetivo de um jogo do xadrez é derrubar o rei adversário. Para isso, os jogadores traçam estratégias para enfraquecer o exército de peças do oponente e conseguir encurralar o rei.
Assim, quando o rei está diretamente ameaçado por uma peça adversária, ele está em xeque. Caso o rei não consiga escapar para outra casa ou não possa ser protegido por outra peça, ele sofre um xeque-mate e o jogo acaba.
Uma das jogadas mais famosas do xadrez é o chamado “xeque-mate pastor”, que pode matar o rei adversário em apenas quatro lances: peão, dama, bispo e dama novamente para o golpe final. Assim, jogadores mais experientes podem usar este truque para finalizar partidas contra oponentes que não conheçam as principais táticas.
A grande premissa do jogo de xadrez, portanto, é calcular quais serão os próximos movimentos da partida. Ao ameaçar uma peça adversária, por exemplo, é fácil prever que o oponente irá tentar protegê-la. Assim, capturar uma peça que está “vigiada” por outra fatalmente irá resultar em uma troca, que pode ser vantajosa ou não. E este é o princípio da jogada conhecida como gambito.
No gambito, a troca de peças não é necessariamente imediata, pois o jogador sacrifica um peão em busca de uma vantagem estratégica no jogo. O gambito da rainha, aliás, é considerado um dos mais ousados na hora de abrir uma partida de xadrez. Mas, diferente do nome da série, a jogada é conhecida como gambito da dama.
Quando as peças brancas abrem o jogo com o gambito da dama, o primeiro movimento é feito com o peão que fica à frente da rainha. Em seguida, o jogador “oferece” o peão ao lado. Apesar de perder uma peça, a dama pode colocar o rei adversário em xeque já na próxima jogada.
Apesar de ter alterado o nome da jogada para “gambito da rainha”, a série da Netflix se preveniu de qualquer gafe em relação às regras e convenções do xadrez graças à consultoria de Kasparov e companhia. Os atores, aliás, foram treinados para mover as peças com a destreza dos profissionais. E os jogos retratados utilizaram sequências de jogadas que realmente aconteceram em duelos históricos.
Por outro lado, a fim de tornar a trama mais ágil, Beth Harmon e os outros personagens de O Gambito da Rainha decidem suas jogadas em segundos, gastando um tempo bem menor que o usual no xadrez. Afinal, em um torneio oficial, cada jogador tem duas horas para fazer 40 lances.
Além disso, a série mostra alguns diálogos entre os jogadores durante as partidas, o que não pode acontecer no xadrez profissional. Até mesmo a troca de olhares é algo pouco comum nos torneios. Beth Harmon, no entanto, tem o hábito de encarar os adversários. Estas pequenas imprecisões, no entanto, ajudam a tornar o enredo da série mais atraente e fazem parte da fórmula do sucesso de O Gambito da Rainha.
Última modificação em 29/09/2023 09:59
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