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Poupança e aplicações atreladas à Selic ainda perdem da inflação

Ganho na renda fixa entre 0,22% e 0,30% está bem abaixo da inflação corrente, que pode ter ficado em 0,71% em maio

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Não tem mesmo para onde correr. Apesar das recentes altas da taxa básica de juros, a Selic, que está em 3,75% ao ano, quem insiste em permanecer na renda fixa, como a poupança e aplicações atreladas à Selic como fundos e papéis de renda fixa, continua perdendo dinheiro.

A inflação oficial de maio, medida pelo IPCA (índice de Preços ao Consumidor Amplo), será conhecida apenas na próxima semana, mas está estimada em 0,71% por analistas e economistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central para o boletim Focus. Portanto, bastante acima do retorno da renda fixa em maio.

O que dirá a caderneta, que paga menos que os 3,75%, mais 70% da Selic: seu rendimento está em 2,63% ao ano ou 0,22% ao mês.

Títulos que remuneram pelo IPCA

Uma das aplicações recomendadas por especialistas na renda fixa para quem pretende driblar “uma inflação alta e que vai subir”, como afirmou esta semana o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é a NTN-B (Nota do Tesouro Nacional da série B) ou Tesouro IPCA, como é ofertado na plataforma do Tesouro Direto.

Como tem a rentabilidade formada por uma taxa prefixada de juros e correção monetária equivalente à inflação medida pelo IPCA, o investidor que compra esse título assegura de antemão uma parcela de juro real (a parcela prefixada), qualquer que seja a inflação no período da aplicação.

É verdade que quem compra um Tesouro IPCA na plataforma do Tesouro Direto tem o juro real embutido no papel, mas ele só estará assegurado se o investidor permanecer com o título até o vencimento. Caso venda pelo caminho, antes do vencimento, o rendimento poderá ser menor e até ter perdas.

Isso poderá ocorrer porque o preço do título é atualizado a cada dia por seu valor de mercado, não pelo preço da curva de juros projetada até seu vencimento. O valor da venda, no fim das contas, é o que o comprador, nessa troca de mãos, está disposto a pagar para ficar com o papel.

O valor do Tesouro IPCA costuma passar por maior volatilidade em momentos de inflação em alta que projeta, por sua vez, perspectiva também de elevação dos juros. O parâmetro aí já não é mais a Selic, definida a cada reunião do Copom, mas o que o mercado chama de juros longos, negociados em contratos de juros futuros para os mais variados vencimentos, desde os mais próximos até os anos mais distantes.

São contratos negociados na B3, a bolsa de valores brasileira, e os juros neles embutidos sofrem influência, para cima ou para baixo, de fatores como expectativa de inflação, que, quando sobe, leva o mercado a puxar também os juros futuros, o que redunda em desvalorização do Tesouro IPCA emitido com taxa de juro mais baixa. Se for vendido em um momento desses, esse título estará valendo menos e o vendedor terá prejuízo. Um risco que não corre se fizer o resgate no vencimento.

Funcionam como o Tesouro IPCA, com o valor do papel atualizado a cada dia no mercado secundário, também os títulos privados com juros prefixados e atrelados à inflação como debêntures, Certificados de Recibo Imobiliário (CRIs) e Certificados de Recibo do Agronegócio (CRAs).

Como se vê, há opções dentro do segmento da renda fixa que podem proporcionar um rendimento melhor do que a poupança e aplicações atreladas à Selic.

Última modificação em 20/04/2023 16:20

Regina Pitoscia

Foi colaboradora das revistas Exame, Cláudia e Nova. Formada em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da USP, cursou Extensão Universitária em Economia na Fundação Getúlio Vargas (FGV) São Paulo e na Faculdade de Economia e Administração da USP, Extensão Universitária em Mercado de Capitais e Finanças Pessoais no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), e Máster em Varejo pela FIA-USP. Recebeu Prêmio Esso de Jornalismo/Economia, de 1989, com reportagem “Seu Fundo de Garantia pelo Ralo”. Atuou como editora dos Cadernos de Finanças Pessoais: “Seu Dinheiro” no Jornal da Tarde, “Suas Contas” e “Fundos & Cia” no Estadão.

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  • Pra essa matéria, qual seria a SELIC ideal para que esses investimentos comecem a ter rendimento positivo?

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