Economia

Lojas Americanas vão falir? Empresa descobre rombo de R$ 20 bilhões; entenda

Escândalo financeiro abala imagem da Lojas Americanas após ser descoberta inconsistência bilionária em contas

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Apenas 10 dias após tomar posse como presidente da Lojas Americanas, o economista e CEO do grupo, Sérgio Rial, deixou a diretoria da marca após divulgação feita pela própria empresa de que foram encontradas “inconsistências contábeis” no valor de R$ 20 bilhões na conta de fornecedores em anos anteriores, incluindo 2022.

O diretor financeiro e de relações com investidores, o CFO André Covre, recém-empossado junto com Rial, também deixou seu cargo após decisão particular. De acordo com a empresa, um comitê será criado para apurar o “rombo” financeiro.

Qual o rombo nas Americanas?

A companhia emitiu comunicado aos investidores para tentar explicar a situação. “Ainda não é possível determinar todos os impactos de tais inconsistências na demonstração de resultado e no balanço patrimonial. Entre as inconsistências, a área contábil identificou a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima, nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores”, afirmou a Lojas Americanas no comunicado.

A empresa já enfrentava desconfiança e instabilidade por parte de analistas e investidores. A entrada de Sergio Rial como presidente do negócio, no entanto, deu um "fôlego" à imagem da empresa.

No final de agosto do ano passado, quando foi comunicado que Rial assumiria a empresa em janeiro deste ano, os papéis no mercado financeiro Americanas subiram 22,5%. Mas a medida não foi suficiente para impedir o momento ruim.

A Americanas vai fechar?

Em análise ao InfoMoney, Leandro Siqueira, sócio-fundador da Varos Research, uma casa de análise de ativos, afirma que é provável que a própria Americanas ainda está buscando informações para entender melhor o que aconteceu. Ao que tudo indica, com base no comunicado emitido pela companhia, a Americanas deixou de registrar uma das contas do negócio que chama risco sacado.

“Basicamente, é quando compra os produtos do fornecedor e, ao invés de pagar nos próximos 90 dias, há uma negociação com uma instituição financeira para realizar um adiantamento para o fornecedor. O banco adianta e a varejista fica com a contraparte. O que parece, a princípio, é que foi removida da conta de fornecedores a parte que o banco adiantou, mas não foi contabilizada a outra parte”, analisou Siqueira ao InfoMoney.

Para ele, a situação só ficará mais esclarecida quando a Americanas emitir seu balanço. “O mercado deve massacrar as ações”, completou. A previsão é de que a empresa divulgue seus resultados de 2022 somente no dia 29 de março.

Ex-presidente não acredita em falência

O InfoMoney também teve acesso a um comunicado emitido por Rial aos funcionários da marca, em que afirmou que João Guerra, que agora assume interinamente os cargos de Rial e Covre, estará à frente das decisões até a finalização dos trabalhos de identificação de todas as inconsistências.

“A posição de caixa é sólida em mais de R$ 8 bilhões e seguiremos pagando nossos fornecedores no prazo estipulado, [assim como] todas as nossas obrigações”, afirmou o ex-presidente. Rial reconheceu ainda que a fase atual será desafiadora para a empresa. “O compromisso de cada um de vocês para essa fase, mais árida, penosa por conta do ajusta e do impacto no mercado, será crucial”, declarou.

Leia a carta na íntegra da Lojas Americanas

Comunicado
Nação Americanas,

Hoje anunciamos que poderá haver um ajuste importante na estrutura patrimonial da empresa. Esse ajuste se deve a uma série de lançamentos contábeis inconsistentes. Esse ajuste se deve a uma série de lançamentos contábeis inconsistentes que precisam ser agora corrigidos e por isso do fato relevante. Não está certo ainda a quais anos esses ajustes se referem, mas sabemos que não só dizem respeito ao ano de 2022, mas há vários anos passados também.

O que muda? A empresa já demonstra sinais claros de retomada de vendas, com vendas nas lojas puro, acima de 15% quando comparado com janeiro de 2022.

Neste fato relevante, se anuncia também, que eu estaria deixando a presidência executiva, por conta do ajuste que obriga priorizarmos duas frentes muito claras:

(i) A gestão do negócio do dia, seguindo na trilha onde estamos, crescendo vendas, na espera da retomada do digital e melhorando margem. Já vemos sinais disso.
(ii) busca de soluções que visem a readequação da estrutura patrimonial da empresa, desde capitalização a outros caminhos.

Até a finalização dos trabalhos de identificação de todas as inconsistências, anunciamos o João Guerra como presidente interino, que juntamente com a liderança da empresa em diversas frentes, seguirá focando no dia a dia da cia. e com ajuda de todos vocês, a construção do nosso futuro [sic]. Eu seguirei apoiando a outra esteira, focada na restruturação da situação patrimonial da empresa, apoiando os nossos acionistas de referência, aí como assessor. A posição de caixa é sólida mais de R$ 8 bilhões [sic] e seguiremos pagando nossos fornecedores no prazo estipulado e todas as nossas obrigações.

Não faltarão aqueles que queiram maldizer, gerando dúvidas sobre o nosso futuro. É verdade que o impacto possa ser importante, mas acreditamos que juntos, trabalho no resultado do dia a dia, focando na construção de um grande trimestre em 23, garantiremos os próximos trimestres [sic]. Em varejo, um dia de cada vez.

O compromisso de cada um de vocês para essa fase, mais árida, penosa por conta do ajusta e do impacto no mercado, será crucial. Uma nação se vê pelo sua estamina [sic] de querer lutar e fazer o seu melhor a cada dia. Manteremos todos vocês sempre informados, através da comunicação vinda diretamente da diretoria da empresa e do João em particular.

Mãos à obra e preparemo-nos para uma boa luta.

 

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Liana Feitosa

Jornalista que já morou em 5 cidades de 3 estados brasileiros e carrega 15 anos de bagagem na Comunicação.

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