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Flamengo hepta? Entenda o que foi a Copa União de 1987

Embora a CBF considere o Flamengo hexacampeão brasileiro, o clube se diz hepta; polêmica é antiga e começou com a Copa União de 1987

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A discussão veio à tona em 2019 e pode voltar em 2020 caso o Flamengo dispute o título brasileiro: afinal, o rubro-negro carioca é hepta ou hexa? Se vencer outro Brasileirão, poderá ser chamado de octa? Para entender a polêmica em torno desta questão, é preciso falar sobre o que foi a Copa União de 1987.

A virada de mesa de 1986

No começo dos anos 1980, o Campeonato Brasileiro estava inchado. A edição de 1985, por exemplo, teve 44 participantes. Para reduzir este número, a CBF determinou que apenas os 24 melhores times do Brasileirão de 1986 disputariam a primeira divisão do ano seguinte.

Mas a confusão começou quando o Joinville conseguiu os pontos de uma partida contra o Sergipe após um caso de doping. Assim, o Vasco estaria fora da segunda fase e, consequentemente, do Brasileirão de 1987. O time carioca recorreu à Justiça comum, até que a CBF aceitou aumentar o número de classificados de 32 para 36.

Até aí, tudo bem. Mas, após a disputa da segunda fase, times como Sport, Botafogo, Vitória e Coritiba foram eliminados. Para evitar o rebaixamento, os clubes recorreram à Justiça, protestando contra a virada de mesa da primeira fase. Pressionada e em crise financeira, a CBF então anunciou que não teria condições de organizar o Campeonato Brasileiro de 1987.

A formação do Clube dos 13

Ao tomarem conhecimento da decisão da CBF, os dirigentes dos clubes de maior torcida do Brasil se uniram para organizar o próprio campeonato. Nascia então o Clube dos 13, encabeçado pelo presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, e Márcio Braga, do Flamengo.

A associação pretendia organizar um campeonato chamado Copa União apenas com os grandes clubes de Rio, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Para não dizer que se esqueceram do Nordeste, chamaram também o Bahia. Para fechar um torneio com 16 times, outros três foram convidados: Santa Cruz, Goiás e Coritiba. Curiosamente, o Guarani, vice-campeão do ano anterior, ficou fora. Assim como o América-RJ, que ficou em terceiro lugar no Brasileirão de 1986.

A Copa União de 1987

Reprodução

Apesar do caráter elitista e dos protestos dos clubes que ficaram de fora, a Copa União se apresentava para o público como um Campeonato Brasileiro. A Globo transmitia os jogos, e a Coca-Cola patrocinava os times que não tinham nenhum anúncio na camisa. A competição, portanto, foi um sucesso de público e audiência.

Mas a CBF não quis ficar para trás, e também organizou o seu campeonato. Assim, os times renegados pelo Clube dos 13 formaram o Módulo Amarelo do Brasileirão de 1987. E a Copa União ganhou a alcunha de Módulo Verde.

Acontece que, para o Clube dos 13, o Módulo Amarelo era a segunda divisão. A CBF, no entanto, pensava diferente. A entidade então elaborou um regulamento que previa o cruzamento entre os campeões dos módulos verde e amarelo.

O Clube dos 13 nunca concordou com esse cruzamento. Mas o então vice de futebol do Vasco, Eurico Miranda, tinha aceitado o acordo com a CBF. Assim, a entidade determinou que Flamengo e Inter, campeões do Módulo Verde, deveriam enfrentar Sport Recife e Guarani, vencedores do Módulo Amarelo.

Mas o Flamengo, que já havia comemorado o título da Copa União após vencer o Inter na final, não compareceu para disputar o quadrangular final. O time gaúcho também boicotou os jogos. Sport e Guarani venceram por WO e disputaram o título, com vitória do time pernambucano.

Flamengo é hepta?

O Sport estava então declarado campeão brasileiro de 1987 pela CBF, título recentemente ratificado por decisão do STF. Mas o rubro-negro considera a Copa União como um título nacional, e sempre contabilizou o troféu em sua soma de conquistas. Por isso, a torcida do Flamengo comemorou o hepta em 2019.

No entanto, a CBF considera o time carioca como hexa. Por outro lado, a entidade reconhece que o Flamengo pode, sim, se considerar hepta. "A CBF esclarece que, ao longo do processo judicial sobre o Campeonato Brasileiro de 1987, defendeu que o título fosse compartilhado entre Sport Clube do Recife e Clube de Regatas do Flamengo”, informou o órgão em comunicado à imprensa no ano passado.

“A decisão judicial determinou que o Sport Clube do Recife fosse considerado o Campeão Brasileiro daquele ano. Sob o ponto de vista esportivo, a CBF, à título de opinião, considera que o Clube de Regatas do Flamengo é merecedor da designação de heptacampeão brasileiro", esclareceu a CBF.

Além do título de 1987, o Flamengo também conquistou os Brasileiros de 1980, 1982, 1983, 1992, 2009 e 2019. Assim, em 1992, os cariocas reivindicaram a famosa Taça das Bolinhas, que deveria ser entregue ao primeiro pentacampeão brasileiro. Mas a indefinição sobre o assunto fez com que o troféu fosse trancafiado em um cofre da Caixa Econômica Federal.

Celso meira/globo

O time do Flamengo em 1987

A quarta das sete conquistas rubro-negras no Campeonato Brasileiro teve como protagonista o atacante Bebeto, autor dos gols do Flamengo na final contra o Internacional. Além disso, a equipe do técnico Carlinhos ainda contava com Renato Gaúcho e também com o craque Zico.

Leonardo, hoje diretor do PSG, também estava naquele time, além do volante Andrade, o lateral-direito Jorginho e o meia Zinho. O esquadrão rubro-negro teve que passar pelo temido Atlético-MG na semifinal. A equipe comandada pelo técnico Telê Santana estava invicta no torneio, mas caiu diante dos cariocas em mais um capítulo da rivalidade entre os dois times.

Já o Internacional, que tinha Taffarel no gol, derrotou o Cruzeiro na semifinal e, na decisão contra o Flamengo, empatou em casa no jogo de ida. No Maracanã, diante de 91 mil torcedores, Bebeto fez o gol do título rubro-negro. Assim, hepta ou não, o Flamengo vencia a Copa União derrotando os melhores times do país. Por outro lado, Sport e Guarani representaram o país na Libertadores do ano seguinte.

Última modificação em 28/07/2022 08:55

Rafael Bruno

Jornalista esportivo desde 2008, trabalhei em duas Copas e três Olimpíadas na redação do UOL Esporte, além de coberturas in loco de UFC, Fórmula 1 e Copa Davis.

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