Negócios de impacto social atraem interesse de gestores

Nos últimos 12 meses, o número de gestores interessados em negócios que produzam impacto social mais que dobrou.

São Paulo - Nos últimos 12 meses, o número de gestores interessados em negócios que produzam impacto social mais que dobrou. Em 2016, eram três fundos atuantes no segmento, agora outros quatro estão em fase de captação de recursos e prospecção de projetos.  Segundo o coordenador de investimento de impacto da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), Daniel Izzo, o potencial dessa iniciativa é vasto. "Esse é um movimento que cresce no mundo todo", disse o executivo, também sócio- fundador da Vox Capital, o primeiro fundo dessa modalidade no Brasil, constituído em setembro de 2012.

Em números do movimento Global Impact Investing Network (GINN) são mais de 400 fundos atuantes ao redor do planeta, com cerca de US$ 120 bilhões em capital levantado (captado) ou aportado em negócios com impacto social ou ambiental. No Brasil, o volume calculado era US$ 186 milhões sob gestão de 29 diferentes investidores locais e externos.  A Vox Capital possui dois fundos: o primeiro, de R$ 84,35 milhões, e um segundo instituído em agosto de 2016 com capital de até R$ 120 milhões. Ao todo, são 11 empresas investidas, sete empresas sob gestão dos setores de educação, saúde, e serviços financeiros (microcrédito), e 1,9 milhões de pessoas atendidas (clientes) pelo portfólio.

Negócios de sucesso

Negócios de impacto socialEntre os cases de sucesso da primeira carteira, Daniel Izzo, citou a Magnamed, da área de saúde; e a Avante, de microcrédito produtivo orientado. "A Avante já tem mais de 60 mil clientes e atua no interior do Nordeste em regiões carentes do Ceará, Piauí, Maranhão e Pernambuco", contou.  Ele contou que a Avante possui 120 agentes financeiros em mais de 100 cidades. "Além da tecnologia [para serviços de pagamentos], os agentes  fazem o contato humano com os clientes. Todos se conhecem, o agente residente na mesma cidade dos clientes. Nosso público é de microempreendedores que precisam de recursos para desenvolver seus pequenos negócios", afirmou o executivo.  No ano passado, a Avante concedeu R$ 65,77 milhões em microcrédito, e entre janeiro a julho de 2017 mais R$ 52,358 milhões, e neste ritmo deverá fechar o exercício atual com mais de R$ 100 milhões concedidos.

Já a Avante Pagamentos conquistou 1.047 clientes até o final do último mês de julho. Na visão de Daniel Izzo, o potencial no Brasil é de um público de sete milhões sem acesso ao crédito em regiões onde a maior parte da população é desbancarizada. Em relatório, o co-fundador e CEO da Avante, Bernardo Bonjean disse que o desafio é atingir um milhão de pessoas até 2021. "Assim como construir mais soluções que facilitem cada vez mais a vida deles." Ainda sobre o potencial da Avante, Daniel Izzo, lembrou que iniciativas semelhantes no México e na Índia ganharam porte e realizaram ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) na casa de centenas de milhões de dólares. "O Brasil tem um tamanho de mercado para microcrédito muito similar ao do México e da Índia", exemplificou o executivo.

Outro case de sucesso é a Magnamed, que produz equipamentos hospitalares para cuidados críticos. "O foco em saúde pública é otimizar o uso de leitos em UTIs [unidades de tratamento intensivo dos hospitais] salvando vidas", contou Daniel Izzo.  A Magnamed exporta ventiladores pulmonares estacionários e de transporte utilizados em remoções emergenciais para mais de 40 países. Entre janeiro e junho de 2017 alcançou 280 hospitais equipados no Brasil e no exterior (111 no item exportação) e 1.578 ambulâncias equipadas (646 no item exportações). Na rede pública doméstica atendeu 50 hospitais e 356 ambulâncias.  "O grande desafio do momento é podermos levar nossos produtos para mais instituições de saúde, hospitais, empresas de remoções do Brasil e do mundo de maneira mais rápida, ou seja, vendendo mais", disse o cofundador e CEO da Magnamed, Wataru Ueda, em relatório da Vox. Em termos conceituais, a  iniciativa GINN considera investimentos em negócios que atendam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis recomendados pela Organização das Nações Unidas (ONU) previstos na chamada Agenda 2030.

Em outras palavras, não se trata de caridade (filantropia), mas de negócios que são avaliados pelo desempenho financeiro e o impacto social pelo Global Impact Investing Rating System (GIIRS), métricas independentes desenvolvidas pelo B Lab. "Quanto melhor o retorno financeiro, maior o impacto. Está na raiz do negócio", explicou o sócio da Performa Investimentos, Eduardo Grytz.  A gestora possui dois fundos de impacto. O mais antigo, de R$ 26 milhões era voltado para os investimentos em startups com impacto social e ambiental, e o segundo, de R$ 176 milhões investe em participações em empresas mais maduras nas áreas de: moradias sustentáveis; química verde, eficiência em iluminação; agricultura de precisão; energia renovável e ambiental.  Grytz contou que a Performa prepara um terceiro fundo com cerca de US$ 120 milhões em parceria com investidores americanos. "Esse fundo é direcionado para negócios de impacto social e ambiental em setores como saúde, educação e sustentabilidade", anunciou o sócio da gestora.  Na carteira da Performa, estão aportes em startups como a Boa Consulta e ProRadis.

Desses exemplos, a Boa Consulta é voltada para agendamentos de consultas e exames por meio de um aplicativo (via smartphone); a ProRadis que trabalha na distribuição do excesso de capacidade de serviço em clínicas privadas de saúde e que possui o Examine Já, marketplace de atendimento médico de baixo custo. Ou seja, a ProRadis conecta clínicas privadas com o interesse de oferecer serviços para pessoas que não possuem um plano de saúde.  Segundo o relatório de impacto social pelo modelo GINN, a ProRadis, por exemplo, atingiu até julho 32.389 usuários cadastrados, 2.407 atendimentos. E o número de unidades credenciadas alcançou 1.134 ante 886 registradas em dezembro de 2016.

Famílias unidas

A sócia da Wright Capital Wealth Management, Fernanda de Arruda Camargo, fez questão de diferenciar que a gestora de patrimônio atende family-offices (termo para escritórios de famílias milionárias) para todo tipo de investimento financeiro, mas que a orientação é o aporte de uma fatia de 1% do patrimônio em fundos de impacto. "Nosso objetivo principal é a preservação de patrimônio das famílias. Nós conversamos com elas sobre a importância de um olhar para negócios com impacto social", disse Fernanda.  A gestora também faz a ponte entre investidores e os projetos. "Se a família atua na área de saúde, apresentamos um projeto da área de saúde. Se a família é do ramo de educação também mostramos projetos nesse setor. Os fundos de impacto estão nascendo no Brasil", aponta.

Em um primeiro momento, a Wright Capital levantou R$ 10 milhões para um fundo de fundos com projetos em saúde, educação, moradias populares, acesso à crédito e energia limpa. "Em alguns anos, teremos mais investidores", diz Fernanda.  Destaque na ONU Em outro destaque é investida pela Vox Capital, Tamboro, que desenvolve plataformas digitais e games educativos para escolas públicas, privadas e de educação corporativa deve multiplicar por 10 seu tamanho em 2018, disse a CEO da Tamboro, Samara Werner. Hoje são mais de 40 mil usuários de soluções.  Ela contou que de 12 a 16 de novembro próximo, a Tamboro foi selecionada para participar do programa Unreasonable Goals, da ONU. "Teremos versões em inglês e espanhol para a América do Sul", anunciou.

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