Quem é o dono da Havaianas e como o chinelo foi criado no Brasil
Chinelo de dedos se tornou símbolo dos brasileiros
Difícil pensar em um símbolo mais brasileiro do que as Havaianas. As sandálias de dedo atravessaram gerações, classes sociais e fronteiras. Estão nos pés de quem mora na periferia, de celebridades internacionais e de turistas que desembarcam no país em busca de sol, praia e informalidade. Conheça a história e saiba quem é o dono das Havaianas.
Quem é o dono da marca Havaianas?
Atualmente, a Havaianas pertence à Alpargatas, empresa brasileira com sede em São Paulo e presença em mais de 100 países. A marca, no entanto, já esteve ligada a um dos episódios mais controversos da história recente do empresariado nacional.
Até alguns anos atrás, a J&F, grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista, controlava 54% da Alpargatas. Após os escândalos de corrupção que vieram à tona com a Operação Lava Jato, o grupo precisou se desfazer de ativos para arcar com um acordo bilionário com as autoridades, uma multa de cerca de US$ 3,2 bilhões, a ser paga ao longo de 25 anos.
A participação na Alpargatas foi então vendida para três holdings: Itaúsa, Cambuhy Investimentos e Brasil Warrant, que hoje dividem o controle da empresa responsável pela marca mais popular de sandálias do país.
Quem criou a Alpagartas?
A história das Havaianas começa em 1962, em um Brasil que vivia o otimismo do pós-guerra e acompanhava a popularização das sandálias de dedo pelo mundo. Inspirado nas tradicionais zori, sandálias japonesas feitas com palha de arroz, o empresário escocês Robert Fraser teve a ideia de criar uma versão mais resistente, adaptada ao estilo de vida praiano brasileiro.
A solução foi usar borracha, matéria-prima abundante e barata no país. Para manter a referência oriental, a sola ganhou até hoje a famosa textura que imita grãos de arroz. O nome veio de outro arquipélago tropical: Havaí, grafado à portuguesa.
Os primeiros pares, chamados de Tradi, tinham sola branca e tiras azuis. Eram vendidos por ambulantes que percorriam o Brasil em Kombis da Volkswagen, estacionando em frente a pequenos comércios para apresentar o novo produto vindo de São Paulo. O sucesso foi imediato.
Em 1969, um erro de produção mudou o destino da marca. Um funcionário pintou as tiras de verde por engano. Em vez de descartar o lote, a Alpargatas colocou o modelo à venda e ele virou febre.
A partir daí, as Havaianas passaram a apostar em cores, estampas e coleções variadas. O que antes era um calçado funcional se transformou em um item de moda. Nos anos 1990, uma grande campanha de marketing consolidou essa virada e reposicionou a marca como democrática, descolada e desejada.
Números que impressionam
As Havaianas vendem mais de 200 milhões de pares por ano, sendo cerca de 16% destinados ao mercado externo. A marca possui mais de 700 pontos de venda espalhados pelo mundo e está presente em vitrines que vão de quiosques de praia a lojas de luxo.
Segundo a própria empresa, dois terços da população brasileira compram, em média, um par por ano. Se todos os pares vendidos ao longo da história fossem colocados em fila, eles dariam 62 voltas ao redor da Terra.
O apelo global da marca também passou pelos pés de celebridades. Madonna, David Beckham e Kim Kardashian já apareceram usando Havaianas. Em um dos casos mais emblemáticos, Kim exibiu um modelo desenhado pela joalheria H. Stern, com detalhes em ouro avaliados em US$ 18 mil.
Polêmica com propaganda
Em dezembro de 2025, a marca voltou ao centro das atenções, desta vez por um motivo político. Um comercial de fim de ano estrelado pela atriz Fernanda Torres gerou reação negativa de setores da direita nas redes sociais e até pedidos de boicote.
Na peça publicitária, a atriz diz que “não quer que você comece 2026 com o pé direito”, expressão associada à sorte. A fala foi interpretada por críticos como uma indireta política, supostamente alinhada a um discurso ideológico.
No vídeo, Fernanda afirma:
“O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés onde você quiser — vai com tudo. De corpo e alma, da cabeça aos pés. Havaianas, todo mundo usa.”
Mesmo sem menção direta a partidos ou eleições, a campanha virou alvo de críticas, reacendendo o debate sobre marcas, posicionamento e polarização no Brasil.
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