Fusões e aquisições de startups mantêm crescimento em 2021

Apenas no mês de abril foram realizadas 29 operações que movimentaram perto de R$ 720 milhões

Era uma aposta certeira no começo do ano para especialistas: 2021 seria mais um ano de crescimento de fusões e aquisições no segmento de startups. Resultado do grande volume de investimentos feitos entre cinco e sete anos atrás, tempo médio de amadurecimento de uma startup para que se torne atraente para médias e grandes empresas no mercado de Fusões & Aquisições (F&A). Passados apenas cinco meses do prognóstico do início do ano, o que se vê é um crescente aumento dessas operações.

Apenas no mês de abril foram realizadas 29 dessas operações que movimentaram algo em torno de R$ 720 milhões, nos dados da Sling Hub,  startup dona de um banco de dados sobre o mercado de inovação do segmento. É praticamente a metade de todas as operações feitas durante todo ano de 2019, que registrou 63 operações. Um estudo da Distrito, empresa focada em análises e levantamento do mercado de startups no Brasil, confirma a velocidade com que as startups têm movimentado esse mercado. Entre janeiro e abril de 2021, foram registradas 77 operações.

“Atingimos um momento de maturidade interessante no ecossistema brasileiro de startups. Hoje, vemos cada vez mais casos de abertura de capital dessas companhias e também movimentos de [fusão e aquisição], tanto no sentido de realizar uma consolidação em um determinado segmento, quanto para expandir áreas de atuação ou na realização de uma venda estratégica para corporações”, diz Bruno Diniz, cofundador da Spiralem, consultoria especializada em inovação para o mercado financeiro e especialista em fintechs.

Mercado de startups

Para especialistas, além da boa safra de startups maduras, um dos principais motivos para essa expansão acelerada está no  volume crescente de investimentos recebidos. Em 2021, startups brasileiras já receberam R$ 10,1 bilhões em investimentos. Só a Loft, do setor imobiliário, abocanhou cerca de US$ 425 milhões.

“É um movimento quase coordenado”, diz o economista Paulo Roberto Siqueira, pesquisador na área. “De um lado, as startups vão ficando mais maduras e eventos de saída dos investidores vão se antecipando. Com isso, há uma consolidação do mercado. E, com isso, as startups mais jovens, com espaço para crescer e receber mais investimentos, vão encontrando oportunidades de fusão com essas empresas mais maduras e sólidas”.

Além disso, há o cenário econômico. “A queda dos juros, o excesso de liquidez e o aumento da digitalização ajudaram nesse contexto de aumento de transações”, diz Gualtiero Schlichting, CBO da STARK e professor de Fusões & Aquisições na Fundação Getúlio Vargas (FGV). 

A movimentação não para. A Totvs comprou a RD Station (antiga Resultados Digitais) por R$ 1,8 bilhão, em uma aquisição que chamou a atenção do mercado. Já a Magazine Luiza, que tem mostrado grande apetite para aquisições, lidera a movimentação no ano: desde janeiro já foram seis compras, desde startups como SmartHint, Steal the Look e Jovem Nerd. A Via Varejo também anunciou um novo fundo, para possíveis compras de startups.

Cenário de startups

Uma empresa que está chamando a atenção nas movimentações de mercado é o Grupo Nuvini, holding de empresas de tecnologia do empresário e investidor Pierre Schurmann. Em fevereiro, o grupo comprou a startup de marketing digital Leadlovers. Voltou ao mercado em março para levar a Effecti, startup de sistemas para empresas participantes de licitações. 

Schurmann conta que o mercado de Fusões & Aquisições está muito misturado com o DNA do Grupo Nuvini. A holding se inspira na Constellation Software, grupo canadense que adquiriu mais de 500 empresas e está listado na Bolsa de Toronto. “É baseada em um crescimento orgânico e inorgânico (por meio de aquisições). Por isso, as aquisições estão em nosso DNA”, diz.

O empresário conta que a busca por aquisições que ganhou força no Grupo Nuvini é um ponto de virada para a empresa. “Esse movimento é fundamental para o crescimento da companhia, pois além de trazer novas soluções para os clientes nos permite gerar várias sinergias entre as empresas da Nuvini”, diz.

Fernando Salla, CEO da Effecti, conta que foi atraído pela Nuvini principalmente pela independência. O grupo de Pierre Schurmann permite que os fundadores permaneçam à frente de suas startups, com o suporte da holding. “[Nós alinhamos] as ações e trabalhamos por meses em integração com o grupo”, diz Fernando Salla ao DCI. “Hoje permaneço como CEO e o Everton [Porath], meu sócio, como COO da empresa”.

Diversificação

Outra empresa que foi às compras é a Softplan, de software, que pretende investir R$ 200 milhões em fusões e aquisições nos próximos três anos. “[Resultados de investimentos] aliados às parcerias de negócio e ao momento do mercado atual nos impulsionaram a seguir em frente com uma estratégia de fusões e aquisições mais sólida, que visa um crescimento mais acelerado com teses de diversificação de negócios e aumento da participação nos setores em que atuamos”, disse Guilherme Tossulino, diretor de Fusões & Aquisições da Softplan, ao DCI. 

Tossulino conta que estão de olho em negócios com alto potencial de crescimento e com duas teses centrais. “Em uma o foco é complementar o portfólio de soluções de software nos três principais segmentos em que atuamos: Construção Civil, Justiça e Gestão Pública. Na outra tese buscamos negócios mais transversais e que não são necessariamente segmentados em verticais para que possamos conectar a um ou dois produtos principais do nosso portfólio”, conta. É o caso do investimento recente na Checklist Fácil.

“Em todos os casos estudamos a história dos empreendedores e o que os trouxe até o estágio atual, além de identificamos o perfil dos sócios e a capacidade deles de fazer com que a nossa aproximação se transforme em resultados positivos para as duas partes envolvidas. Uma análise técnica e financeira também é fundamental”, complementa.

Futuro do mercado de Fusões & Aquisições

E será que o mercado continuará aquecido, com tantas movimentações? Para especialistas ouvidos pelo DCI as compras e fusões devem continuar em alta no Brasil.

“Se por um lado os juros tendem a aumentar, temos o evento do aumento de clientes, fruto dessa digitalização massiva que veio para ficar. Pessoas mais velhas que se obrigaram a pedir pela primeira vez comida por aplicativo e que antes pediam ajuda para netos e netas, agora entraram no mundo digital e não irão sair dele, mesmo após a chegada da vacina. O número de transações deve se manter elevado e as empresas de tecnologia tenderão a permanecer na liderança do volume de transações”, diz Gualtiero Schlichting, da STARK.

Além disso, as estratégias das empresas em busca de startups para compra são duradouras. A própria Softplan quer investir os R$ 200 milhões ao longo de três anos. 

“Todos os negócios serão digitais e não haverá mais distinção entre online e off-line, como já ocorre em alguns segmentos. O consumidor final quer resolver seu problema com a melhor experiência possível e a entrada e acesso a novos produtos e soluções é uma avalanche disputando o dinheiro e a atenção dele. As consolidações de mercado e a união de forças de produtos e empresas complementares é um movimento sem volta. Veremos nos próximos anos muitos negócios se fundindo e tornando as experiências de uso e consumo ainda melhores”, finaliza Guilherme Tossulino, da Softplan.

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