SÃO PAULO – “O impacto do trem de alta velocidade (TAV) nas cidades é de extrema importância no que se refere ao transporte urbano, pois interage com diversos elementos, como a conexão com aeroportos, e diminui a emissão de poluição.” A afirmação é do diretor da International Union of Railways (UIC), Ignácio Barron de Angoiti, na 13ª edição da feira Negócios nos Trilhos, realizada entre os dias 9 e 11 de novembro no Expo Center Norte, na capital paulista.
Apesar do clima otimista que envolve a obra, o superintendente de planejamento de transporte da São Paulo Transporte (SPTrans), Laurindo Junqueira, questionou o projeto. Ele apontou problemas com o traçado, como a falta de acesso – na capital paulista – do Campo de Marte ao metrô e ainda fez algumas críticas ao projeto, pois “São Paulo teria sido a última cidade a ser ouvida pelos projetistas”, comentou.
Os comentários se deram no último seminário do evento que levou em conta uma das obras mais audaciosas já discutidas no País. O evento reuniu especialistas do setor, como Guilherme Quintella, presidente da Estação da Luz Participações, e, afora as discussões, o TAV trouxe à tona debates, como, por exemplo, as tecnologias do setor ferroviário utilizadas no País e em todo o mundo. Ao todo, estiveram na feira 175 expositores e cerca de 7.500 visitantes este ano, contra 156 expositores e 7 mil visitantes em 2009.
Na ocasião, para Quintella, a importância foi destacar o grande mérito do TAV: afora a praticidade de ele não parar se chover ou atrasar no caso de viagem de estadistas, o TAV “oferece a oportunidade de as cidades pararem de crescer, pois se cria a chance de as pessoas residirem em outros locais que não as grandes metrópoles”.
Para Barron de Angoiti, apesar da complexidade do projeto, não há por que temer falta de demanda ou dificuldades de traçado. “É importante dar atenção a detalhes como as conexões com metrô, com a intermodalidade, oferecendo serviços de táxi; além disso, no que diz respeito à demanda, posso afirmar que costumam subestimar a demanda induzida, como pessoas que não viajam de avião, e aqui, existe uma população que sustenta este transporte”, diz Guilherme.
Quintella foi além e afirmou que o “Brasil é um país ferroviário” e que, para apresentar um projeto, o governo teve bases seguras, pois relacionou as populações que serão atendidas e aplicou índices como a demanda que hoje existe na ponte aérea e que continua a crescer. “Adotando estes princípios, fica evidente que existe demanda suficiente para justificar a construção do TAV, e já há estudos de outros traçados.”
Os estudos avaliam a possibilidade de construção de um trem de alta velocidade para Campinas-Belo Horizonte, Campinas-Triângulo Mineiro e São Paulo-Curitiba. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate, outros trens deverão sair com mais facilidade, depois que o trem “São Paulo-Rio de Janeiro-Campinas for entregue”. “Precisamos não só disso, mas também de trens regionais para ter um transporte urbano de qualidade que atenda as necessidades de um Brasil que está em pleno crescimento.”
Projeto
O projeto do TAV foi desenvolvido pelo governo federal e vai interligar as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. Estimado em R$ 33 bilhões, o trem integrará ao percurso os dois maiores aeroportos internacionais do País: Guarulhos, em São Paulo, e Galeão, no Rio de Janeiro, bem como o aeroporto de Viracopos, em Campinas. A obra, ao ser realizada, irá inserir o Brasil no seleto grupo de países que contam com este tipo de transporte, entre os quais estão a China e a Itália.
A disputa pelo projeto, que já foi adiado pelo governo, é aguardada e, a expectativa é de que no próximo dia 29 sejam entregues as propostas de construção. Vicente Abate, no entanto, espera que o prazo seja adiado para dar mais tempo às concessionárias interessadas. “Este adiamento não foi confirmado, mas espero que o governo esteja sensível, sem prejudicar o projeto”, que dia 16 de dezembro deve anunciar a empresa responsável pelo TAV.
Proximidade do leilão de concessão do trem de alta velocidade (TAV) aflora discussões como a falta de acesso ao trem, na capital.