O que é estado de sítio, termo citado por Bolsonaro e que preocupa a OAB

Luiz Fux, presidente do STF, contatou o presidente Jair Bolsonaro nesta última sexta-feira (19/03) sobre o que ele quis dizer em relação ao estado de sítio por causa da pandemia da Covid-19.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está na mira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Após receber uma intimação que propõe a vacinação contra a Covid-19 em massa, a Instituição entrou com um parecer sobre a citação do presidente em torno do estado de sítio, que Bolsonaro acredita que está sendo feito por governadores que optaram pelo lockdown e medidas mais restritivas para conter o avanço do vírus no país.

A colunista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, informou neste sábado (20/03), que a OAB vai investigar páginas e perfis de apoiadores de Bolsonaro que defendem a proposta que o presidente declare estado de sítio. Bolsonaro, por sua vez, entrou com uma ação no Supremo Tribunal de Justiça (STF) e comparou as medidas de isolamento social com a situação excepcional prevista pela Constituição, mas que vai contra o estado democrático de direito.

O blog da jornalista Andréia Sadi, no G1, também noticiou o contato feito pelo presidente do STF, Luiz Fux, a Bolsonaro. Segundo a publicação, Fux questionou o presidente sobre as "informações desencontradas" em relação ao estado de sítio, que bolsonaristas estavam defendendo na internet. Mas Bolsonaro negou que desejasse tal medida, e ressaltou que os governadores estavam sendo os responsáveis por propor "estado de exceção".

No próximo dia 23 de março, terça-feira, a OAB fará uma reunião para discutir sobre os atuais riscos a constitucionalidade e o estado democrático, e também sobre as ameaças e possibilidades de ser aplicado um estado de sítio pelo governo de Bolsonaro, já que medida é controvérsia, e tem um histórico negativo, como, por exemplo, a época da ditadura no Brasil. Entenda a seguir o que significa o estado de sítio.

O que é estado de sítio?

Estado de sítio é defendido por apoiadores de bolsonaro
Presidente da república, jair bolsonaro, cita o termo "estado de sítio" e preocupa oab. (foto: marcos corrêa/pr)

O estado de sítio, ou estado de exceção, é uma medida extrema e anti-democrática, normalmente decretada por autoridades do Congresso Nacional, com ênfase do presidente da República, e em situações caracterizadas como emergenciais e de calamidade pública, que podem ser definidas pelos próprios governantes. Defensores da democracia definem o estado de sítio, citado por Bolsonaro em seu discurso contra governadores, como uma "grave ameaça à ordem constitucional democrática."

Em casos de estado de sítio, o governo federal tem total poder sobre poderes Legislativo e Judiciário, e outros direitos, como, por exemplo, a liberdade de expressão, o direito de ir e vir, e outros precedentes que afetam não só a Constituição, mas também o desenvolvimento do país.

Segundo o professor de direito da FGV-Rio Wallace Corbo, especialista em direito público, entrevistado pela BBC News Brasil, o estado de sítio não é "só a restrição de circulação", mas também impõe uma série de limitações dos direitos fundamentais. Ele também afirma que a medida não tem correlação com a pandemia da Covid-19.

Corbo explicou que o estado de sítio foi citado por Bolsonaro porque o presidente tentou comparar a atual situação no combate do novo coronavírus, que atinge números drásticos em todo o Brasil, como o toque de recolher para evitar a disseminação do vírus, como a restrição de circulação que fere o direito de ir e vir dos cidadãos, algo extremamente possível em um estado de exceção.

De modo geral, o estado de sítio pode causar medidas excepcionais para uma situação também excepcional, em que é preciso pensar em uma "defesa interna", em momentos de instabilidade institucional causada  por crises políticas ou militares. Na Constituição, o estado de sítio pode ter duração de até 30 dias ou mais, em caso de prorrogação.

Qual a relação com a ditadura militar no Brasil (1964-1985)?

Ditadura militar no brasil e o estado de sítio de bolsonaro

Por ser um instrumento utilizado pelo chefe de Estado que suspende temporariamente os direitos e as garantias dos cidadãos e dos Poderes, o estado de sítio é uma medida comum em ditaduras e governos totalitários. No Brasil, a ditadura militar instaurado pelo golpe de Estado em 1984 pelos militares, instaurou um estado de exceção.

Apesar de ser temporário, o estado de sítio durou 21 anos no país, nas mãos dos militares. A "necessidade" de implementar um estado de exceção foi justificada na época, pela ameaça à segurança nacional do comunismo. Com isso, e com o apoio dos Estados Unidos, o Brasil passou a assumir um estado de defesa, em que os governantes determinavam o que podia ou não, e em caso de discordância, perseguiam e torturavam opositores.

Alguns dispositivos do estado de sítio são parecidos com uma ditadura, como restrições em torno da liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, a busca e apreensão em domicílio, a requisição de bens e intervenção nas empresas de serviços públicos;
Requisição de bens. Entretanto, a medida foi promulgada em 1988, logo após a ditadura, pela Constituição brasileira. Segundo o texto, o estado de sítio só pode ser decretado em três situações:

  • Comoção grave de repercussão nacional;
  • Fracasso das medidas tomadas no estado de defesa;
  • Declaração de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira.

Estado de sítio é citado por Bolsonaro

Jair Bolsonaro tem um histórico conflituoso quando se trata de ditadura  e estados de exceção. Ele que já chegou a dizer que "chegará o momento de medidas duras", é formado pela Academia Militar das Agulhas Negras, capitão do Exército brasileiro e fã do Coronel Brilhante Ustra, torturador na época da ditadura. Em seu discurso a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016, Bolsonaro exaltou a figura de Ustra.

Recentemente, o governo de Bolsonaro solicitou ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região, um recurso para poder fazer atividades em alusão ao golpe militar de 1964, ou seja, celebrar a data. Em 2020, o Ministério da Defesa do governo federal publicou um institucional a “Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964″, em que celebrava a efeméride e dizia que aquele dia era considerado como um “marco para a democracia brasileira”.

Entretanto, Jair Bolsonaro garantiu ao presidente do STF, Luiz Fux, nesta última sexta-feira (19/03), que não tinha interesse em implementar um estado de sítio, mas sim era contra os governadores restringirem a circulação de pessoas, mesmo em meio ao auge da pandemia da Covid-19 no país.

No mesmo dia de sua conversa sobre o estado de sítio com Fux, Bolsonaro não comentou sobre o registro de 2.730 mortes provocadas pelo coronavírus nas últimas 24 horas. Ao todo, segundo o levantamento feito pelo consórcio de veículos em parceria com as secretarias de saúde estaduais, o Brasil já totaliza 290.525 mortes. Ainda na sexta-feira, o país bateu pela primeira vez a marca de 15 mil mortes em apenas uma semana.

Acompanhe as principais notícias sobre política no DCI Digital.

Você pode gostar também
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você esteja de acordo com isso, mas você pode optar por não participar, se desejar. Aceito Mais detalhes