Vacina Russa contra Covid: tudo sobre a primeira vacina do mundo

Rússia registra a primeira vacina do mundo nessa quarta-feira e avança para produção em massa em setembro enquanto a comunidade científica suspeita de quebra de protocolos de segurança para acelerar sua aprovação.

Uma vacina russa contra covid foi anunciada pelo Kremlin recentemente e na próxima quarta-feira (12) será oficialmente registrada.

De acordo com Mijail Murashkov, Ministro da Saúde, muito em breve a Rússia começará a produção em massa de doses. "A primeira vacina contra o coronavírus, desenvolvida pelo Instituto Gamaleia, completou seus ensaios clínicos e agora estão sendo preparados os documentos para o procedimento de registro"

O ministro ainda disse que essa não seria a única vacina em testes no país, apenas a que está mais perto de ser produzida.

 

Como funciona a vacina russa contra covid?

 

A vacina russa utiliza a tecnologia chamada Vetores Virais Recombinantes (VVR) e é baseada em duas cepas de adenovírus. Elas foram geneticamente modificadas para fazer com que as células infectadas desenvolvam resposta imune ao coronavírus.

Segundo oficiais russos, o mecanismo foi criado com base em uma outra vacina russa, desenvolvida para combater o Ebola anos atrás.

 

O que sabemos sobre os testes

 

De acordo com a imprensa local, a primeira fase de testes da vacina russa contra covid realizada no hospital militar Burdenko foi um grande sucesso, com todos os 38 voluntários participantes desenvolvendo resposta imunológica.

Apenas o fato de esses testes terem sido realizados em um hospital militar com soldados já criou polêmica entre a comunidade científica, que questionou o consentimento dos voluntários.

O vice-ministro de Defesa, Ruslan Tsalikov, informou que todos os voluntários se sentiam bem no momento da alta e que, logo, a vacina está pronta.

Uma rodada de ensaios clínicos com 1,6 mil pessoas deverá ser realizada em agosto, após o registro da vacina russa, segundo a vice-primeira-ministra, Tatiana Golikova.

 

Temores quanto à vacina russa

 

Apesar da torcida mundial por uma vacina contra o Coronavírus, muitas inseguranças e receios cercam a produção da vacina russa contra covid. Isso porque existe a suspeita de que alguns protocolos de segurança teriam sido desrespeitados.

 

Vacinação em massa pode ser prematura

 

Acima de tudo, o problema é a massificação da vacina. Muitos países estão neste momento desenvolvendo vacinas e fazendo testes. Porém, apenas a Rússia pretende partir tão cedo para a vacinação em massa.

A vacina, que está sendo desenvolvida pelo laboratório de pesquisa em epidemiologia e microbiologia Nikolai Gamaleia em parceria com o Ministério da Defesa começará a ser produzida industrialmente por três empresas biomédicas a partir de setembro.

Segundo o Ministro do Comércio da Rússia, Denis Maturov, centenas de milhares de doses da vacina serão produzidas a cada mês a partir deste ano. Após, no ano que vem, serão milhões.

A vacinação deverá começar em outubro e será gratuita, começando por grupos específicos da população que estão mais expostos. Logo, médicos, professores e trabalhadores que estão em constante contato com grandes grupos serão vacinados primeiro.

Vacina russa contra covid 2
Imagem: reprodução / unsplash

Rapidez do registro da vacina russa contra covid pode ter relação com quebra de protocolos de segurança

 

No entanto, o professor e chefe de laboratório do instituto de pesquisa Metchnikov, Dr. Vitavi Zverev, alertou em entrevista para a impossibilidade do desenvolvimento de uma vacina segura nesse intervalo.

"É impossível garantir a segurança de uma vacina durante um período de tempo como este que nos separa do início da pandemia" disse o professor.

Além disso, Zverev questionou a capacidade das empresas às quais a produção da vacina russa contra covid foi entregue de lidarem com aquele tipo de tecnologia.

Fato é que os cientistas do Instituto Gamaleia não publicaram nenhum estudo de testes realizados com sua vacina. Além disso, em determinado momento romperam protocolos básicos de segurança e testaram a vacina em seus próprios corpos.

Assim, existe a suspeita de que o Kremlin estaria colocando seu desejo de restabelecer o país como uma potência científica à frente da segurança da população.

 

As preocupações da Organização Mundial de Saúde

 

Quando questionado a respeito, o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier disse: "Qualquer vacina e qualquer medicamento para esse fim deve, é claro, ser submetido a todos os diferentes ensaios e testes antes de ser homologado"

Lindmeier reforçou que existem linhas, diretrizes e regulamentos a serem seguidos para que o desenvolvimento da vacina seja feito de maneira segura e eficaz. Ele apontou que entre a possibilidade de desenvolver uma vacina e ter passado por todas essas etapas há uma grande diferença.

A OMS demonstra preocupação não apenas com a eficácia da vacina, mas também com seus possíveis efeitos colaterais. Dessa forma, a Organização alerta os pesquisadores para a análise dos efeitos colaterais negativos e se esses efeitos não são maiores do que os benefícios da vacina.

No momento, a OMS reconhece 26 candidatas a vacina em fase de ensaios clínicos em seres humanos e 139 em avaliação pré-clínica.

 

Vacina russa contra covid no Brasil

 

O Diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas informou a imprensa de que a instituição foi procurada pela estatal russa responsável pelo desenvolvimento da vacina.

"Em um primeiro momento, dissemos: até podemos avaliar porque é uma tecnologia diferente, precisamos de mais dados técnicos para avaliar e dados sobre os estudos feitos. Enfim, conhecer melhor. Ainda não recebemos o retorno" disse o diretor.

Covas observou que a vacina não está em fase final de desenvolvimento, referenciando a listagem da OMS. Ainda assim, o diretor não descarta uma parceria futura.

O Instituto Butantan já coopera com o laboratório chinês Sinovac na terceira fase da produção da Coronavac, a vacina chinesa.

 

 

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