Automóveis: Concorrência faz montadoras cortar margem

As quatro maiores montadoras não admitem, mas estão se movimentando para enfrentar a concorrência com as inúmeras marcas que chegaram ao País nos últimos anos, algumas com preços até 30% mais baixos e com equipamentos de série que, nos modelos nacionais equivalentes, são opcionais. Dentre as medidas mais incisivas está a redução da margem de lucro, que vem caindo para todas as empresas nos últimos anos, de acordo com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)

São Paulo - As quatro maiores montadoras  de automóveis não admitem, mas estão se movimentando para enfrentar a concorrência com as inúmeras marcas que chegaram ao País nos últimos anos, algumas com preços até 30% mais baixos e com equipamentos de série que, nos modelos nacionais equivalentes, são opcionais. Dentre as medidas mais incisivas está a redução da margem de lucro, que vem caindo para todas as empresas nos últimos anos, de acordo com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Bellini.

Há ainda iniciativas de redução de preço como a da Renault, cujo modelo Sandero, que rivaliza diretamente com o recém chegado J3 da Jac Motors, foi anunciado a R$ 37,5 mil, mas com motor menos potente. O chinês que chega ao Brasil a R$ 37,9 mil tem como rivais dentre as quatro montadoras, o Fiesta 1.6 da Ford, o Gol da Volkswagen, o Palio da Fiat e o Corsa da Chevrolet.

Mesmo com essas ações, o domínio das gigantes como Volkswagen, General Motors, Fiat e Ford, únicas opções no mercado automobilístico brasileiro em 1990, continua sendo abalado. A instalação de novas fábricas e a chegada dos importados estão tirando terreno e a perspectiva é de que suas participações recuem ainda mais. Os chamados "new comers" (novos automóveis entrantes, na tradução livre) chegaram ao Brasil com suas fábricas a partir de meados da década de 90 e começaram a mudar a composição de forças nesse mercado..

Para o analista econômico e professor do Ibmec, Márcio Salvato, quem ganha é o consumidor com a grande quantidade de montadoras no Brasil, pois aumenta a concorrência e gera redução de custos. "No Brasil, para agravar a situação das montadoras tradicionais, o consumidor tem baixos índices de fidelidade à marca, o que pode beneficiar as orientais com todas as vantagens de preço como carros 30% mais baratos que a média das montadoras tradicionais, mesmo com carros mais bem equipados", explica o analista..

Com este cenário, a perspectiva do especialista no segmento automobilístico Aparício Stefani, da Autodata, é de que o ritmo de queda continue, gradualmente, no mercado automobilístico brasileiro. "As quatro grandes deverão recuar nos próximos anos para algo entre 15% e 20% das vendas. Já as montadoras que aportaram por aqui nos anos 90 devem concentrar entre 5% e 10% das vendas", explica.

Contra-ataque

A invasão de importados não pode ser atribuída apenas aos representantes de marcas asiáticas, principalmente da China e da Coréia. De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), a participação dos importados no mercado total subiu de 6,07% para 6,4%, até maio deste ano. A entidade, que representa marcas que não possuem fábrica no Brasil informa que a diferença entre essa participação de mercado e as vendas internas é o resultado das importações das próprias montadoras, que trazem modelos fabricados em suas unidades no exterior.

No acumulado de cinco meses do ano, as empresas associadas à entidade trouxeram do exterior 71,2 mil automóveis, ou 22,36% do total de veículos importados no Brasil, que atingiu um total de 318,4 mil unidades vendidas.

Na análise de Stefani, essa alta das importações se justificam ao passo que as empresas concentram sua produção em um país para obter ganhos de escala. No Brasil, exemplifica ele, a maior parte da produção está concentrada em automóveis compactos. Essa é considerada mais que uma tendência, uma vocação da indústria nacional, costumava citar o ex-presidente da Anfavea, Jackson Schneider, hoje na Embraer.

Por este motivo, Stefani rejeita a ideia de que a chegada de coreanos e chineses façam o Brasil passar pelo mesmo momento que os Estados Unidos com a chegada dos japoneses àquele país. Ele relembra que a crise automobilística que levou Detroit, a cidade símbolo dessa indústria nos Estados Unidos, à bancarrota foi a venda de automóveis importados, fato que provocou o fechamento de milhares de postos de trabalho. Aqui, apesar dos modelos chegarem via importações, já há movimentos para a implantação de linhas de produção da chinesa Chery, assim como a Hyundai, do Grupo Caoa, que se estabeleceu em Anápolis (GO).

Apesar desses números da Abeiva, as montadoras nacionais parecem não se convencer de que os veículos estrangeiros não são uma ameaça ao mercado nacional. Em janeiro, com o fechamento do balanço anual da indústria, o presidente da Anfavea, Cledorvino Bellini, afirmava que a expansão dos veículos estrangeiros no Brasil afetava as margens e, consequentemente a rentabilidade das operações das montadoras instaladas no País.

Ele, que também preside a Fiat no Brasil, disse que as montadoras vem reduzindo suas margens de lucro para que as montadoras consigam competitividade ante os importados, mais especificamente, os orientais. O executivo disse que as empresas de grande representatividade no Brasil já reduziram muito os repasses do indicador de inflação oficial no Brasil, o IPCA nos último anos. "Reduzimos a margem de preço para ficarmos mais competitivos".

Procuradas, as empresas não se manifestaram até o fechamento da edição. A GM possui um plano de investimento de R$ 5 bilhões até 2012. A Volkswagen prevê investimentos de R$ 6,2 bilhões até 2014. A Ford possui um plano de investir R$ 4,5 bilhões até 2015. A Fiat deverá investir cerca de R$ 10 bilhões até 2014.

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