História de Maradona: da origem humilde ao status de herói nacional
Diego Armando Maradona construiu uma história tão marcante no futebol que a idolatria dos argentinos por ele vai muito além do esporte

Há menos de um mês, o mundo do futebol reverenciava a história e o legado de Diego Armando Maradona no dia em que ele completou 60 anos. Ninguém imaginava, entretanto, que aquele seria o seu último aniversário.
No dia 30 de outubro, data de nascimento de Maradona, seus fãs costumavam comemorar o aniversário do ídolo dizendo “feliz Natal”. Afinal, ele é tratado como um Deus na Argentina – e também na cidade de Napoli, onde viveu seu auge.
Por outro lado, o dia 25 de novembro de 2020, data da morte de Maradona, ficará marcado como um dos mais tristes da história do futebol. O eterno craque se recuperava de uma cirurgia no cérebro. Ele estava em casa quando sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.
Últimos dias de Maradona
Logo em seguida às comemorações de seu aniversário, Maradona foi internado às pressas e preocupou seus fãs. Ele precisou passar por uma cirurgia para a retirada de um coágulo no cérebro. Além disso, ele ainda sofria crise de abstinência de álcool. Ainda assim, recebeu alta no dia 12 de novembro e permaneceu em casa desde então, sob acompanhamento de uma equipe médica.
No dia 3 de novembro, quando Maradona foi operado, deu para ter uma ideia do tamanho da idolatria por ele. Afinal, quando o médico pessoal do ex-jogador, Leopoldo Luque, anunciou que a cirurgia foi um sucesso, os fãs que estavam na porta do hospital comemoraram como um gol.
Soccer AM on X (formerly Twitter): “Diego Maradona’s doctor confirmed the Argentine underwent successful brain surgery and the crowd erupted in support. 🙌Get well soon Diego 💙 pic.twitter.com/mBCg5yCOgL / X”
Diego Maradona’s doctor confirmed the Argentine underwent successful brain surgery and the crowd erupted in support. 🙌Get well soon Diego 💙 pic.twitter.com/mBCg5yCOgL
Dias antes de seu aniversário de 60 anos, Maradona entrou em quarentena após ter contato com um caso suspeito de covid-19. Mas, durante o isolamento, sua saúde desmoronou. Antes disso, no entanto, ele planejava estar em campo como técnico do Gimnasia y Esgrima La Plata na volta do Campeonato Argentino. Afinal, fazendo jus à sua história, Maradona ainda respirava futebol.
História de Maradona
Diego Armando Maradona cresceu em Villa Fiorito, no subúrbio de Buenos Aires, e era um dos oito filhos do casal Don Diego e Dalma Franco. Ele nunca esqueceu sua origem humilde, e por isso sempre foi considerado como um legítimo representante do povo argentino – embora nunca tenha ocupado nenhum cargo político.
“Eu cresci em um bairro privado. Privado de luz, de água, de telefone…”, chegou a dizer Maradona sobre as dificuldades na infância. Seu pai, Don Diego, trabalhava como pedreiro e operário de fábrica para tentar sustentar a família.

A história de Maradona no futebol começou com os dribles desconcertantes nas peladas do subúrbio, que o levaram para as peneiras do Argentinos Juniors. Em seis anos no clube que o revelou, ele disputou 166 partidas e marcou 140 gols. O suficiente para chamar a atenção do Boca Juniors.
Ao brilhar com a camisa do time mais popular do país, Maradona rapidamente ganhou fama nacional e foi convocado para defender a seleção argentina na Copa de 1982. Antes de embarcar para o Mundial da Espanha, no entanto, ele já estava vendido para o Barcelona pelo valor recorde de 7 milhões de dólares.
Chegada ao Napoli
No entanto, a história de Maradona no Barcelona foi marcada mais pelo seu gênio difícil do que pelos títulos e gols. Afinal, o relacionamento com a diretoria do clube catalão azedou de vez depois que ele protagonizou uma briga generalizada na derrota para o Athletic Bilbao na final da Copa do Rei de 1984.
Official SSC Napoli on X (formerly Twitter): “Per Sempre 💙 Ciao Diego pic.twitter.com/LzppqlBqLV / X”
Per Sempre 💙 Ciao Diego pic.twitter.com/LzppqlBqLV
O Barcelona então aceitou transferir Maradona para o Napoli. Antes da chegada do argentino, o clube do sul da Itália nunca tinha vencido a liga nacional. Mas Dieguito estava no seu auge, e era difícil segurá-lo. Assim, o craque conquistou não só um, mas dois títulos italianos para o Napoli: em 1987 e 1990. Além disso, foi campeão da Copa da Uefa com a camisa celeste.
A beatificação de Maradona
Enquanto brilhava com a camisa do Napoli, crescia a expectativa para a participação de Maradona na Copa de 1986. E ele não decepcionou. Mas, ainda que ele tenha sido decisivo com dois gols na semifinal contra a Bélgica e uma assistência no jogo do título contra a Alemanha, quase ninguém se lembra destes jogos.

Afinal, a participação de Maradona na Copa de 1986 – assim como sua história no futebol – poderia ser representada por apenas um jogo. Nas quartas de final, a Argentina encarou a Inglaterra pela primeira vez depois da derrota na Guerra das Malvinas.
A Argentina pode ter perdido a guerra, mas ganhou um herói nacional. Maradona teve uma das atuações mais brilhantes de um jogador de futebol em toda a história. Além da famosa “mão de Deus”, o camisa 10 assegurou a classificação com a jogada que ficaria conhecida como o “gol do século”.
A vitória por 2 a 1 contra a Inglaterra marcou o início da mística em torno de Maradona. A partir daquele dia, ele virou uma verdadeira divindade para os argentinos. Existe até um templo em homenagem a ele na cidade de Rosario: a Igreja Maradoniana.
“Foi mais do que vencer um time de futebol. Derrotamos um país. Dissemos que o esporte nada tinha a ver com as Malvinas, mas sabíamos que, na guerra, morreram muitos argentinos, baleados como pássaros. Aquilo era a vingança”, escreveu em sua biografia.
FIFA World Cup on X (formerly Twitter): “🙏 Remembering a man who gave us so many unforgettable memories 🤍💙pic.twitter.com/iVR9upkgYW / X”
🙏 Remembering a man who gave us so many unforgettable memories 🤍💙pic.twitter.com/iVR9upkgYW
Declínio
Já consagrado como herói nacional, Maradona voltaria a brilhar com a camisa da seleção argentina na Copa de 1990. Aliás, ajudou a eliminar o Brasil com a jogada que deixou Caniggia na cara do gol. No entanto, não conseguiu evitar a derrota para os alemães na decisão.
Mas, na Copa de 1994, a genialidade de Maradona passou a ser ofuscada pelas polêmicas. Três anjos antes, aliás, ele já tinha sido pego no doping por uso de cocaína e cumpriu uma suspensão de 15 meses. No Mundial dos Estados Unidos, depois do jogo contra a Grécia, ele foi flagrado com a substância proibida efedrina.
Mais tarde, Maradona admitiu que sua história com as drogas começaram ainda em 1982, quando usou cocaína durante a recuperação de uma lesão em Barcelona. Após o escândalo e a suspensão em 1991, ele deixou o Napoli e caminhou para o fim da carreira como jogador. Aposentou-se em 1997, com a camisa do Boca Juniors.
Carreira como treinador

Depois que pendurou as chuteiras, Maradona enfrentou problemas com álcool e excesso de peso durante um período em que se manteve afastado do esporte. O retorno, no entanto, aconteceu em alto estilo. Afinal, em 2008, Dieguito assumiu o comando da seleção argentina na preparação para a Copa de 2010.
Com estrelas como Lionel Messi no elenco, Maradona chegou às quartas de final, mas perdeu de goleada para a Alemanha no jogo da eliminação. A partir de então, ele teve trabalhos esporádicos como treinador no Oriente Médio até chegar ao Dorados de Sinaloa, do México. Antes de morrer, ele treinava o Gimnasia y Esgrima La Plata.
Legado de Maradona
“Estive muito tempo fora e às vezes me pergunto se o povo vai continuar me amando”, declarou Maradona ao jornal argentino Clarín em sua última entrevista. A julgar por todas as homenagens e pelo seu legado, que vai muito além do futebol e diz respeito também à representatividade de um povo, sem dúvidas o amor dos fãs de futebol por Maradona será eterno.